Aposta no potencial turístico depende de investidores e articulações políticas

Quando o turismo é colocado como uma possibilidade os resultados positivos são muitos.

Cachoeira do Rio Tapera. Fotos: Wilian Clay Wachak

A sensação que se tem é de que o turismo na região da Cantuquiriguaçu, embora tenha tudo para ser uma aposta de peso, enrosca na não convergência das articulações políticas necessárias, sobretudo pelas constantes mudanças nos quadros políticos.

Quando se decide sair da sensação e apurar, é possível quase ter certeza de que os ventos sopram pouco para esse rumo, pois tanto os relatos de expectadores do setor, quanto dos gestores são sobre desafios de ordem prática, como investimentos do Estado e União, através dos órgãos afins, além de investimentos privados em infraestrutura.

Na última atualização do Mapa Nacional do Turismo feita pelo Ministério do Turismo, em 2017, com o auxílio da Agência de Desenvolvimento Turístico da Região Lagos e Colinas e empenho dos gestores que estiveram a frente dos órgãos municipais de turismo, dos 20 municípios que já constavam no mapa, apenas 11 permaneceram. Dentre eles, Foz do Jordão, Cantagalo, Rio Bonito do Iguaçu, Reserva do Iguaçu, Porto Barreiro, Virmond, Quedas do Iguaçu, Pinhão, Guraniaçu, Catanduvas e Laranjeiras do Sul. Tanto que este, recebeu R$ 255 mil, em 2017, gastos na iluminação do Natal, na Praça. Já, Foz do Jordão, por constar no mapa do MTur, passa a receber R$ 150 mil por ano, para investir no turismo. No entanto, atualmente, ambos municípios não contam com gestores que respondam diretamente pelo setor.

As exigências para a inserção dos municípios no Mapa Nacional do Turismo, quando o órgão abre para atualização, o que possibilita receber recursos federais, de acordo com o ex-presidente da Adetur Lagos e Colinas, Júnior D’Agostini, não são nada além de informações precisas. “É preciso basicamente atualizar as informações dos municípios que contam com atrativos turísticos. Basta incluir tudo o que existir, como aguas termais, pequenos hotéis, pousadas e recantos”, conclui o ex-presidente da Adetur, órgão que atualmente está para reestruturar a diretoria até dia 01 de abril.

Os municípios costumam argumentar que entre as exigências, está a de que tenham infraestrutura como hotel conforme critérios, o que só é possível por meio de investidor particular, ator este, que só se instala numa determinada região, com alguma logística ou articulação em fase avançada. E assim segue-se o círculo de justificativas. Mas constata-se, que isto só influencia na categoria que o município é enquadrado, e não na inserção, desde que a documentação encaminhada, seja completa.

Laranjeiras do Sul na frente: é C na categorização por município

O Ministério do Turismo (MTur) adotou desde 2015, uma metodologia para categorizar os municípios brasileiros. A partir de quatro variáveis de desempenho econômico: número de empregos, de estabelecimentos formais no setor de hospedagem, estimativas de fluxo de turistas domésticos e internacionais, os municípios do Mapa do Turismo Brasileiro foram agrupados em cinco categorias, de A até E. Nesse quesito, Laranjeiras do Sul, está na frente, na categoria C, enquanto os demais municípios da Região Lagos e Colinas, estão nas categorias D e E. O MTur obedece esse critério para priorizar os investimentos e auxiliar aos municípios, de acordo com suas infraestruturas internas. Já, a atuação da Paraná Turismo é pouco mencionada nas declarações dos agentes do Turismo Regional.

As vastas belezas naturais não exploradas na região

Tomando como exemplo o município de Virmond, cujo potencial turístico é dos mais viáveis, por manter aspectos da cultura polonesa, como a dança e comidas típicas, além da criação de caprinos para exportação, e ao qual pertence o lado mais acessível das belas paisagens e cachoeiras do Rio Tapera, pela Colônia Cel. Queiroz. A conclusão é de que a parceria público privado para convergir, precisa necessariamente de articulação política para que um projeto consistente e integrativo da região, seja implementado. Logo, tudo recais sobre os gestores públicos que em algumas cidades, com apoio dos órgãos superiores, conseguem explorar essas belezas naturais como fonte de renda, outros não.

O Rio Tapera está a 10 minutos de Laranjeiras do Sul, cidade polo da região, até onde a ponte sobre o curso de águas que corta a BR 277, demarca a divisa entre os dois municípios. Dali, seria possível o acesso às cachoeiras por cerca de 5 km em poucos minutos, não fossem as condições do acesso. A estrada é de chão com pedregulhos naturais em alguns trechos, até que se chegue à propriedade das famílias Pokowski e Secunda, que cultivam fumo e soja há menos de 2 km das encantadoras cachoeiras. Mesmo sendo em propriedade particular, a prefeitura fica responsável pelo acesso dos visitantes de toda a região, que já elegeram, no estilo boca a boca, as quedas d’água, como ponto turístico, cuja melhoria com colocação de cascalho na serra mais íngreme, está prevista para os próximos dias. No entanto, no auge do fluxo de pessoas, de acordo com relatos dos moradores, chega em torno de 50 entre banhistas e pescadores, em períodos de altas temperaturas, não sendo ainda suficiente para a manutenção de um restaurante ou hotel.

Mas se o turista quer uma opção com mínima infraestrutura, então a pedida é as águas termais de Lagoa Bonita, pertencentes apenas ao Município de Virmond. Lá, também em propriedade privada, estão as piscinas naturalmente aquecidas, onde é possível alugar casas mobiliadas que comportam cerca de 12 pessoas, por R$ 350 a diária. No local funciona uma lanchonete e a expectativa dos frequentadores é de que o proprietário que atua no ramo de postos de combustível e lojas de conveniência, venha a investir na infraestrutura. Este local também é favorecido pela melhoria no acesso com calçamento, uma vez que é caminho para o vertedouro da Usina Hidrelétrica do Rio Cavernoso, pertencente à Companhia Paranaense de Energia, que ainda no início deste mês se comprometeu com o Prefeito Neimar Granoski, em recuperar roda a via, que é utilizada intensivamente pela estatal.

Empreendedorismo de pequeno porte

De acordo com Luiz C. Leite, ex-diretor da Adetur Lagos e Colinas, o empreendedorismo de pequeno porte que já existem nos pequenos municípios, com um apoio da gestão municipal, podem ser melhor explorados. “Talvez os empreendedores não tenham uma visão de negócio para explorar como turismo. Desde a agroindústria, pesque e pague, caminhadas na natureza. Tudo isso pode ser considerado como atrativo turístico, desde que haja um técnico, um gestor que organize isso, podem também alavancar para o turismo porque atraem pessoas de fora do município”, ressaltou Luiz, observando que é preciso fomentar a visão de empreendedores e gestores, criando o conselho com representatividade mista, pois é o que vai dar continuidade, mesmo quando mudam os gestores.

Luiz destaca ainda que é a valorização da base que atrai os consumidores e a partir disso os investimentos de maior porte começam a surgir.

Laranjeiras do Sul, cidade polo e a frente na categorização do MTur

Em Laranjeiras do Sul, cidade que aparece na categoria C, melhor avaliada na região, em função da infraestrutura de hotéis com a qual passou a contar, Inverno Gastronômico (na 4 ª edição em 2018) e Assistência Técnica emTurismo Rural, não havendo importantes pontos turísticos com belezas naturais, estabelecidos como tal, além do Parque do Lago e pontos religiosos, alguns recantos e rios. A expectativa era de que um terreno de reserva ambiental no Bairro Jabuticabal, já de posse do município em troca de dividas ativas, fosse transformado num parque. Mas de acordo com a secretaria de Urbanismo, houve interrupção do pagamento de parcelas relativas a diferença de valores do acordo judicial feito na Gestão Beck Lima, durante a gestão de Lauro Ruths. A ex-prefeita Sirlene acabou renegociando com os proprietários por área muito inferior, não sendo mais suficiente para o almejado parque. “Pelo que sei, ficou destinada uma parte do terreno para Laranjeiras e outras para os herdeiros. O município ficou com 5639,00 M2 + 2000,00 M2. Uma péssima negociação para o município, pois já havíamos pago 2/3 do terreno. Isso foi feito na gestão anterior. A área era de 70000,00m2.”, completou o secretário de Urbanismo, Leoni Luiz Meletti.

De acordo com o secretário de Governo e Gestão, Everson Mesquita, que hoje acumula também o departamento de turismo, em breve o município terá um gestor específico para o setor.

Porque apostar em novas alternativas

Embora a região seja altamente produtiva, tanto na agricultura como produção animal, as capacidades se esgotam. O solo empobrece, as adversidades climáticas podem mudar, e com isso as previsões de safra. Não bastasse esses argumentos, os aspectos culturais em si, ganham com o intercambio que o turismo proporciona, além da geração de emprego e renda.

Além dos municípios citados, há muitos outros na região, com potencial turístico a ser desenvolvido e em desenvolvimento. A prova de que quando os investimentos são feitos, os resultados são positivos, está no município de Saudade do Iguaçu – que não consta no Mapa Nacional do Ministério do Turismo. Onde as piscinas térmicas com hotel, restaurante, pousadas e uma variedade de opções de lazer, são frequentadas por turistas e visitantes de toda a região.

É preciso que a Paraná Turismo também se envolva ainda mais na formação de lideranças que atuem no setor, a longo prazo, sem o imediatismo político.

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