Cemitério Municipal de Laranjeiras do Sul: um drama para vivos e mortos

O agente administrativo diz que em 2013, por castigo político, foi colocado a frente do serviço, até que compreendeu sua importância e hoje não se importa em fazê-lo, vê como única solução, a aquisição e destinação de um novo terreno para a finalidade de cemitério.
Localizado em área quase central, o que por si só já é um problema, o Cemitério Municipal de Laranjeiras do Sul, é assunto em evidência desde a última quinta-feira (04), quando o Blog Meia Hora, veiculou um vídeo mostrando, dentre outras irregularidades, os coveiros realizarem o serviço de serragem de ossos (exumação) nos corredores do cemitério, que não conta com um local adequado para tal procedimento.

Os coveiros, que contam que o víedo foi gravado há mais de um ano e que o material já é “requentado”, são pessoas da comunidade, que realizam informalmente e na condição de autônomos, tanto os serviços de enterros, como de remanejamento de ossadas e construção de túmulos e capelas. Pela prestação dos referidos serviços, recebem dos familiares, ficando livres para negociar com estes e até para

agentes informais dentro do cemitério, os senhores Valdir e Lauro mostram o saco plástico com lacre e fixa de identificação, onde os ossos são armazenados. Esses sacos existem há 4 anos.

fazer o trabalho de forma voluntária, quando se trata de pessoas indigentes ou muito carentes. “Nesta semana mesmo, teve uma família que enterrou uma criança e não cobramos, porque era muito pobre”, disse Valdir Viana, um dos coveiros informais, que trabalha há 12 anos no cemitério de Laranjeiras do Sul. Seu colega de trabalho, Lauro Ville, estava fazendo a construção de uma capela, no momento da visita da reportagem de Comcafé – atividade para a qual ganham em média R$ 2.500. Já, para a construção de túmulos, cobram cerca de R$ 400, e pela retirada de ossos das gavetas e condicionamento nas urnas,  o responsável pelo contato com as famílias costuma repassar R$ 40 para eles, contam.

José Domiciano, responsável pela gestão do Cemitério Municipal. há pouco mais de 4 anos.

O responsável direto, junto à prefeitura de Laranjeiras do Sul, é o servidor José Domiciano, que iniciou no serviço público em cargo comissionado, na primeira gestão do atual prefeito, Berto Silva, na secretaria de Assistência Social. No final do segundo mandato do prefeito, efetivou-se por meio de concurso e acabou sendo colocado na gestão do cemitério, segundo ele, como um castigo, por ser adversário político na gestão da ex-prefeita Sirlene.

No entanto, ele conta que o fato de já ter trabalhado na Assistência Social o ajudou a compreender que estava a frente de um serviço muito importante para a comunidade que o apoiou e o encorajou a aceitar o desafio. “Percebi que era um local com muita carência. Tudo era ainda mais complicado. Não havia sequer embalagens adequada para o armazenamento dos ossos, nem luvas. A prefeita até foi sensível e fez algumas melhorias como mandar limpar e tirar uma imensidão de lixo que havia dentro do espaço”, relata o servidor.

Antes de 2013, Domiciano conta que os ossos eram

Gavetas públicas, que são lacradas com identificação e data, e que após cinco anos, os coveiros dizem que são abertas, e o responsável diz que somente com autorização da família.

embalados em sacos de ração e sacolas plásticas, e que a falta de zelo era tanta que resultou em mais de mil ossadas sem identificação, dentro da capela rosa, que ele transformou em ossário, pois antes ficavam num amontoado nos fundos do cemitério.

Sobre o fato dos serviços funerários serem prestados por agentes sem vínculo com o poder público, Domiciano diz que não tem duvidas de que está quase tudo ilegal. Mas que não há como parar o atendimento e que tanto ele como os agentes, mesmo que estejam irregulares, fazem um trabalho que ninguém quer fazer. Questionado sobre a falta de equipamentos de segurança para os homens que trabalham indiretamente com ele, respondeu que para quem já teve que usar sacolas de plástico como luvas, agora até que melhorou. ” Já dispõem de luvas pelo menos”, disse.

Caso de abandono de túmulo que não recebe mais cuidados e o poder público tem que intervir.

José Domiciano pede para ressaltar que nenhuma exumação, tanto no espaço público como particular, que confessa que de fato é feito nos corredores do cemitério, por não haver local adequado, é feita sem a autorização das referidas famílias, assim como nenhum enterro é feito sem certidão de óbito. “Os familiares são avisados por ocasião do enterro, que após cinco anos devem comparecer para autorizar a exumação e relocação dos restos mortais. Então, só é feito perante essa procura e enquanto não aparecem para autorizar, não é feito. Alguns acompanham, outros não. Mas a autorização é obrigatória, sendo inclusive publicado em diário oficial, caso haja necessidade de alguma movimentação”, garante Domiciano. Nisso ele contradiz a informação dos coveiros que se referem a ele como muito bondoso e que muitas vezes repassa do próprio bolso os R$ 40 pelo trabalho deles, mesmo sem conseguir encontrar as famílias para que estas repassem tal valor.

Terreno nos fundos do cemitério, para onde, de acordo com o representante da prefeitura, seria possível ampliara o atual cemitério.

Outra coisa que tanto os coveiros como o agente público fazem questão de assegurar é que não há distinção no tratamento entre pessoas que estão nos túmulos e capelas particulares ou nas gavetas públicas. “A necessidade de realizar o serviço no corredor acontece para ambos os caso. A diferença é que os particulares são acomodados no reservatório dentro da própria capela da família. Já os públicos, quando há pessoas da mesma família, o procedimento é semelhante, sedo acomodado aos pés do novo caixão, e caso não tenha e seja muito necessária uma remoção, então vai para o ossário, Mas para isto, passa até por autorização de uma comissão interna dentro da prefeitura, assim como nos casos de abandono de túmulos”, explica o agente, para o qual a solução dos problemas atuais só será possível, após a compra de novo terreno, o que segundo ele já há levantamento, sendo necessária a desapropriação de algumas áreas para que o atual espaço seja ampliado para o lado dos fundos.

De acordo ainda com informações dos entrevistados, não há nenhum estudo de impacto ambiental do cemitério que hoje fica no centro da cidade, assim como não há interação dos agentes da vigilância sanitária do município, em relação há a nenhum dos fatos mencionados. “Apenas o pessoal da limpeza pública interage conosco, pois entram aqui para varrer e retirar os resíduos”, contam.

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