Coletivo regional de juventudes do MST: Protagonistas na construção de sua própria identidade

O colunista semanal de Comcafé, Alessandro Kominecki, que publica às segundas-feiras, é professor de Geografia, especialista em Educação do Campo e membro da APP-Sindicato núcleo de Laranjeiras do Sul. Atua como professor na rede estadual de ensino do Paraná.

O Coletivo Regional de Juventude se organiza desde o ano de 2012, com a participação de jovens residentes nas áreas de acampamentos e assentamentos da reforma agrária, dos municípios paranaenses de Rio Bonito do Iguaçu, Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul.

Os jovens possuem sua própria forma de organização coletiva para discutirem questões específicas que atingem e oprimem a juventude que vive no campo e que luta pelo direito à terra ou/e por condições dignas de vida. As ações giram em torno do acesso à educação e formação humana, trabalho e renda, arte, cultura e comunicação. A partir dessas temáticas são realizados cursos, oficinas, reuniões, manifestações, criação de espaços produtivos agroecológicos, intervenções de agitação e propaganda, etc. Buscando incentivar a participação coletiva e o protagonismo da juventude na valorização de sua cultura e defesa contra a violência do agronegócio.

O trabalho ocorre a partir do Coletivo Regional de Juventude, e com a atuação dos seus integrantes, que se configuram como sujeitos multiplicadores, nos coletivos locais de juventude nas comunidades de onde os jovens são oriundos.

ORGANICIDADE DO COLETIVO DA JUVENTUDE MST/PR

 O Coletivo da Juventude MST/PR apresenta a seguinte organicidade com intuito de atender a demanda presente nos acampamentos e assentamentos do MST:

Coletivos de Juventude: organização de base da juventude (nos acampamentos, assentamentos, escolas…).

Coletivos Regionais de Juventude: espaço de organização em nível de região, compostos pelos/as coordenadores/as dos coletivos de base e de outras tarefas.

-Coordenação Estadual da Juventude: Compostas pelos/as coordenadores/as e referências dos Coletivos de cada região e das tarefas na brigada de agitprop – Agitação e propaganda

– Brigada Estadual de Agitação e Propaganda Carlos Mariguella: é dividida nas frentes de batucada, palhaço, teatro, produção de materiais, registro e memória.

As atividades desenvolvidas pelos jovens são divididas em cinco eixos de atuação prioritários:

  1. Agitação e Propaganda:

 A tarefa de Agitação e Propaganda do MST/PR construída desde uma definição e experiência do Movimento e inserida na organicidade do Coletivo de Juventude, vem sendo entendida como um método de trabalho que pode dar conta de ser uma “porta de entrada” para a juventude no MST, ou seja, potencializar o vínculo do jovem com a organização e ao mesmo tempo, cumprir essa tarefa de denúncia do inimigo e organização da classe trabalhadora. Parte da compreensão de que não é unicamente tarefa da juventude, e que essa não é a sua única tarefa. Nesse sentido, tendo em vista os desafios da nova conjuntura, trabalha-se na intencionalidade de formar um perfil de jovem “agitador/organizador”, que além de integrar as frentes da brigada de agitprop, se constitua pouco a pouco como uma referência política para a organização, desde o território que está inserido.

2. Relação com as escolas (auto-organização dos estudantes): Tendo a escola como tempo e espaço estratégico para se trabalhar a formação da juventude nas diversas dimensões que a luta exige, e tomando como base a experiência de auto-organização dos estudantes no MST, é necessário avançar na relação com as escolas de acampamento e assentamento, de modo a vincular a organização da juventude no interior da escola a organização do Coletivo de Juventude do MST, considerando a juventude estudante como sujeito em potencial para realizar trabalho de base, desde a organicidade do Coletivo de Juventude do Paraná.

3. Autossustentação da Juventude:

a) Realizar atividades de autossustentação de modo a garantir a autonomia material do Coletivo de Juventude na realização das tarefas e nas lutas, organizando-as desde as contribuições dos coletivos regionais e outras formas.

b) Construir iniciativas de experiências produtivas baseadas na agroecologia e/ou na cooperação, envolvendo a juventude como sujeito protagonista. Partindo da compreensão que não resolverá os problemas materiais imediatos da juventude e suas formas de organização, mas que pode ir sendo aprimorado em longo prazo como um viés de autossustentação.

4. Relação com os Movimentos Sociais: na construção da Reforma Agrária Popular o MST entende que a unidade das forças populares e a luta de massas são fatores imprescindíveis para sua realização, sendo, portanto, fundamental estabelecer relações políticas a partir da luta cotidiana com os outros movimentos sociais de juventude, do campo e da cidade, destacando-se como aliança prioritária o Levante Popular da Juventude, contribuindo para sua construção e organização da Juventude urbana.

5. Formação: entende que as contradições e as lutas sociais no próximo período se acirrarão por um tempo prolongado, sendo um tempo histórico propício para a formação ideológica da classe trabalhadora, forjando novos militantes e quadros políticos. Destacamos, portanto, que a juventude deve ser protagonista desse processo e se preparar ideologicamente pra enfrentar as batalhas que se avizinham. A partir disso, se elencou como prioridade quatro atividades formativas para a juventude do Paraná:

a) Escolas Regionais de Formação: objetivo de formação de base para multiplicação de jovens inseridos nas tarefas cotidianas da organização, em especial os coletivos de juventude.

b) Curso “Ernesto Chê Guevara”: realizado todo ano em Janeiro, em nível de região Sul do país, com o objetivo de formação intermediária de militantes.

c) Formação de Formadores: participar deste processo formativo no Paraná, em conjunto com a militância do MST, com objetivo de multiplicação de formadores e organizadores na base.

d) Formação de Quadros e Dirigentes: Aproveitar todos os cursos da Escola Nacional Florestan Fernandes que cumpram o objetivo de formação de dirigentes e formadores. Além disso, ressaltamos o trabalho como uma dimensão da formação humana imprescindível, em que a juventude deve experimentar novas formas de produção e organização coletivas na base, e ainda o internacionalismo, enviando militantes para as brigadas e tarefas internacionais que a organização convocar.

O Coletivo da Juventude é um espaço que garante a inserção dos jovens presentes nos espaços do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, nas tomadas de decisões para impulsionar o processo de atuação política. O Coletivo não organiza somente tarefas, organiza sujeitos, possibilitando a juventude espaços de participação política, preocupando-se com as questões específicas desse sujeito e com sua inserção nas lutas.

“Juventude que ousa lutar:

Constrói o poder popular!!!”

Grito de ordem do Coletivo da Juventude

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