João*

Diego Mendonça.Diego Mendonça Domingues é Engenheiro civil, formado pela Universidade Federal do Paraná. Pós-graduado em administração tributária e integrante do levante popular da juventude e publica sua coluna todas terças-feiras, no Portal Comcafé.

E agora, João?

A responsabilidade pesou,

A alegria findou,

O amigo partiu,

A solidão ficou,

E agora, João?

E agora, João?

Você sem renome,

Que não acredita nos outros,

Com problemas diversos,

Que chama, contesta?

E agora, João?

 

Está sem confiança,

Se perdeu no percurso,

Está sem sentido,

Já não pode ceder,

Já não pode amar,

Não faz uma ode,

A solidão ficou,

De ódio está cheio,

De maldade está cheio,

De tristeza está cheio,

Vive na distopia,

E tudo pesou

E tudo ruiu

E tudo matou,

E agora, João?

 

E agora, João?

Quando ainda amava,

Quando ainda era célebre,

Quando ainda comum,

Quando sincero,

Quando era vindouro,

Quando era honesto,

Quando tinha ciência,

Sua luta – e agora?

 

Pecador como Adão

Ainda quer fazer horta,

Não existe horta;

Quer desaparecer no ar,

Mas o ar acabou;

Quer ir para longe,

Mas tudo é perto.

João, e agora?

 

Quem sabe se esperneasse,

Quem sabe se mentisse,

Quem sabe se fugisse,

Para um lago amazonense,

Quem sabe se deitasse,

Quem sabe se prendesse,

Quem sabe se revoltasse…

Mas você discorre,

Você existe, João!

 

Tudo muito obscuro

Dentro do anonimato,

Como certa filosofia,

Como olhar para a lua

A fim de respirar,

Talvez sem amuleto

Talvez sem nunca mais lutar.

Sentido, João!

João: – Ordinário, marche!

 

* João é o personagem do texto de 19/07/2016 criado nesta coluna. Busca adequar a realidade da vida adulta e suas desilusões com a esperança da infância e suas utopias. O texto é uma paráfrase da poesia “José”, de Carlos Drummond de Andrade.

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