Os riscos de contaminação da água por agrotóxicos na Cantuquiriguaçu

 

Por Pedro Ivan Christoffoli

A parte final da série de colunas sobre a água discute a situação do risco real de contaminação, na região da Cantuquiriguaçu, pela aplicação de agrotóxicos nas lavouras. Como vimos em colunas anteriores, as águas sofrem contaminação por ação humana, no processo mesmo de realização das atividades produtivas, mas também no momento de consumo, de eliminação de dejetos, etc. A questão que buscamos abordar na coluna de hoje diz respeito aos riscos de contaminação da água por agrotóxicos. Em que medida as águas da nossa região estariam ou não recebendo cargas contaminantes dignas de preocupação? Escassas são as pesquisas realizadas e não se vê divulgação desse tipo de dados sobre a água distribuída publicamente pela Sanepar ou companhias municipais de saneamento da região. Como proceder então?

Indiretamente podemos buscar informações junto a outros órgãos públicos, de forma a estimar riscos potenciais quanto à contaminação dos mananciais. Algumas dessas fontes podem ser a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (SEAB) e a Secretaria Estadual de Saúde (SESA). Vamos a esses dados para alguns municípios selecionados:

A produção agrícola em nossa região movimenta-se em torno de algumas culturas principais, como é o caso da soja (29.403 hectares), milho (14.730 ha) e trigo (3.060 ha) no caso do município de Laranjeiras do Sul;  Já em Virmond temos milho (21.589 ha), soja (13.324 ha) e feijão (1.400 ha). No município de Cantagalo tivemos o plantio de soja (41.683 ha), milho (29.663 ha) e trigo (2.869 ha). Todos esses dados são referentes ao ano de 2012. Já no município de Candói tivemos milho (130.140 ha), soja (100.980 ha), batata inglesa (33.133 ha), trigo (28.355 ha), e cevada (24.640 ha). Essas lavouras são conduzidas no sistema convencional, que se baseia no uso amplo de agrotóxicos, produtos que trazem riscos à saúde humana, animal e ao meio ambiente.

Em relação ao volume de agrotóxicos utilizados nesses municípios, tivemos um consumo, em 2012, de valores impressionantes: Cantagalo (484 mil Kg), Candói (1,65 milhões de Kg), Laranjeiras (182 mil Kg) e Virmond (550 mil Kg). Todos esses dados são de fontes oficiais do governo do PR. Os números absolutos por si só impressionam. Mas isso não é o mais grave. Dividindo-se esses valores pelo número de hectares cultivados nesses municípios temos números igualmente alarmantes:

O uso de agrotóxicos por hectare variou de 3,13 Kg/ha em Laranjeiras, a 9,66 Kg/ha em Cantagalo, 16,82 em Candói e 27,31 Kg/ha no município de Virmond no ano de 2012. Os dados referentes a 2013 mostram até um agravamento nesses números, chegando a 19,75 em Candói, Cantagalo com 20,63 Kg/ha e Virmond a absurdos 30,75 Kg de venenos por hectare de terra cultivada. Como esses dados são obtidos mediante a comparação entre compra de agrotóxicos e área total cultivada, é o que se chama de consumo aparente (não se tem a certeza de que o produto foi efetivamente utilizado naquele ano). Apesar disso podemos ter a certeza de que o consumo de venenos agrícolas é crescente e que parte dele está sendo canalizado para as reservas de água potável que dispomos para consumo.

Outro dado assustador diz respeito ao volume de agrotóxicos aplicados por habitante. O dado de que no Brasil temos um consumo entre 5 a 7 kg de agrotóxico por habitante por ano (Kg/hab/ano) chocou muita gente. Pasmem, que esse número é quase ínfimo em relação aos dados regionais. Enquanto em Laranjeiras temos um consumo de 17,72 Kg Kg/hab/ano, em Cantagalo chega a 47,39 Kg, em Candói chega a 100,37 e em Virmond, nosso “campeão” regional, chegaria a 116, 59 Kg/ha/ano.

Portanto, queremos chamar a atenção de que a atual forma de agricultura precisa ser repensada urgentemente, que a questão da produção agroecológica tem que ser posta na ordem do dia e que as autoridades na área agrícola e de saúde devem ser chamadas a discutir com a cidadania alternativas para essa situação, que beira o insustentável. O lucro de alguns não pode estar acima da vida e da saúde da população!

 

 

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