Para além do tempo integral na escola: a educação integral

DiegoDiego Mendonça Domingues é Engenheiro civil, formado pela Universidade Federal do Paraná. Pós-graduado em administração tributária e integrante do levante popular da juventude. Todas as quintas-feiras, publica sua coluna no Portal Comcafé.

 

Atualmente, tanto nos grandes centros quanto nos interiores do Brasil e do mundo, as sociedades se vilipendiam internamente causando grande violência especialmente na formação das crianças, adolescentes e jovens. Deixar seus filhos na escola já pode ser um medo para muitos pais, quem dirá deixá-los sozinhos em casa enquanto se trabalha – vira-se um terror: medo de más influências, crime etc.

Para a superação desses dois fatores (má qualidade do ensino dentro e da formação fora da escola) devemos construir uma escola em sentido amplo, que atenda aos anseios de uma comunidade séria, inteligente, bem organizada e desenvolvida: uma escola unitária, a qual forme dirigentes dessa nova sociedade. Importante ressaltar que a extensão da jornada discente não pode ser apenas uma questão de ampliação de tempo, mas de uma organização escolar que contemple e qualifique as atividades obrigatórias e as atividades livres do estudante.

As ideias de ensino integral surgiram advindas da primeira guerra mundial e da quebra da bolsa de valores em 1929 (uma das grandes crises cíclicas capitalistas, mas não a primeira, vide grande depressão das décadas de 1870 a 1890) – sendo que na Europa, a qual possuía uma indústria mais avançada que a brasileira, surgia um clima antidemocrático ditatorial nacionalista, e na América Latina nascia um populismo de líderes apoiados em trabalhadores urbanos. Sendo assim, se consolidaram na época, em nosso país e mundo, duas classes sociais distintas que avançam no decorrer da história de maneira inseparáveis: os industriais e o operariado.

A educação integral, ou escola unitária, deve, portanto, superar a separação entre a formação de grandes diretores de empresas (que hoje aprendem em escolas privadas de renome) dos seus funcionários (que hoje aprendem em ensino público), por exemplo. Apesar de reconhecermos que existe a possibilidade de ascensão social, é inegável que quem detém mais poderio econômico paga um ensino melhor para seu filho. Mas a nossa escola não pode testemunhar isso e ser conivente com essa dicotomia, pois aí estaríamos atestando nossa incompetência em cuidar da nossa própria comunidade.

O advento da escola unitária significa o início de novas relações entre trabalho intelectual e trabalho manual não apenas na escola, mas em toda vida social. O princípio unitário, por isso, irá se refletir em todos os organismos de cultura, transformando-os e emprestando-lhes um novo conteúdo. Ou seja, não é possível ensinar em larga escala os filhos de altos executivos de grandes empresas juntamente com os filhos de funcionários de chão de fábrica se não mudarmos as relações de trabalho, e a própria correlação de forças políticas na sociedade. Essa é a realidade, e a realidade é crudelíssima.

Para afastarmos nossas crianças do tráfico, para proporcionarmos aulas de matemática, educação física, artes, português, para ensinarmos os valores de cidadania, a constituição, e também a cozinhar, cuidar dos bens, entre tantas outras necessidades que não só a família, nem só a igreja, nem tão somente apenas a escola precisam ensinar aos nossos adolescentes precisamos urgentemente abrir os olhos para um fato: necessitamos desenvolver uma educação que integre as nossas crianças. Necessitamos educar as nossas crianças com integridade. Não podemos separá-las já novinhas umas das outras. Ao contrário, que construamos com objetividade um espaço social mais justo, sustentável, íntegro, unitário, honesto e compreensível. Que troquemos a lógica individualista pelo coletivo. Que saiamos de nossas zonas de conforto e incidamos dentro das nossas possibilidades na transformação social.

Que lutemos!

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.