Porquê Seo Antonio teve a ideia de fazer um filme sobre o Xagu dos Marianos

Gerações passaram e um descendente, Antonio do Prado Rosa, teve a iniciativa de fazer uma filmagem para homenagear seu bisavô Siriaco, um dos pioneiros. Ele não pensou em gênero, nem em roteiro, apenas fez o que veio à cabeça. Mas fica o desafio para alguém que entenda do assunto, pois boas histórias não faltam no Xagu dos Marianos.

Casa quase centenária, que ainda preserva aspectos originais.

A história da comunidade do Xagu dos Marianos, que de acordo com relatos dos moradores começou a mais de 100 anos, sem dúvidas, é digna de ser documentada e registrada, tanto pelo período em que os tropeiros passaram por ali, tocando vara de porcos, rumo a maiores cidades, tanto por ser um dos pontos de desbravamento do município de Laranjeiras do Sul, além de lendas, crenças populares, belezas naturais e as astucias e desafios dos pioneiros para viver e garantir um quinhão das terras que ainda eram pouco habitadas. De acordo com o IBGE, Em divisões territoriais datadas de 1937, figura no município de Guarapuava o distrito de Laranjeiras que na sequência passou a denominar-se Município de Iguaçu, sendo constituído de 3 distritos: Iguaçu, Vila Xagu (hoje Xagu dos Marianos), ex-Laranjeiras e Catanduvas.”

As marcas de uma localidade histórica são muitas. A começar pela estrada que leva à comunidade, com acesso logo após o posto de pedágio entre Laranjeiras do Sul e Nova Laranjeiras. o trecho foi substituído pela BR 277, mas antes era chamado de Rodovia Estratégica e já servia aos propósitos do que é hoje o “corredor do Mercosul”.

Seo Antônio visita Seo Genésio e ouve dele algumas considerações sobre o filme, que já teve sessão na comunidade.

Atualmente, a comunidade é habitada por apenas cerca de 12 moradores, que contam que as gerações anteriores sonhavam que a cidade iria se formar naquele lugar, pois a movimentação era grande. “havia hotel com restaurante e rodoviária. O comércio era forte e o ponto de vendas mais falado era de um tal mascate que trazia mercadorias para vender e era muito engraçado”, conta o presidente da Igreja, Genésio Albino Mendes, que hoje é dono da propriedade que pertencera ao tal mascate. “contam que uma vez, o Rio Xagu, esse rio ali, estava muito cheio. Daí chegou um homem e queria atravessá-lo. Ele perguntou para o mascate se dava pé à cavalo. E ouviu dele que um casal havia acabado de atravessar. O homem se atreveu entrar e foi levado pela correnteza. Quando perguntaram ao mascate por que ele havia encorajado o homem ele disse: Ele não esperou eu terminar de dizer que era um casal de pato que tinha atravessado”, conta Genésio.

De acordo com Genésio que fez críticas francas e diretas ao filme de Seo Antônio por não ter mostrado mais o lado da história e os mais antigos da comunidade, assim como imagens com carroças e vara de porcos, a referência na comunidade hoje são os Melet, que não figuram no filme. “O Meletinho tinha que ter falado, contado a história dos familiares dele. Tinha que fazer mais planejado”, opinou Genésio, tendo ouvido de Seo Antônio que até convidou muitas pessoas, mas que não acreditavam na ideia e por isso não foram no dia da gravação. “Eu hoje moro longe, lá em Londrina. Aproveitei para fazer o filme nos dias que passei por aqui. Mas podemos fazer ou vocês mesmo podem fazer uma segunda parte”, provoca Seo Antônio.

Bar do Ivo.

No caminho, passa-se pelo bar do Ivo Antunes de Paula, onde há 30 anos, atende com a mulher Ilda. Mas só a partir do meio dia, pois trabalham no sítio pela manhã. Eles contam que a comunidade é pacifica e que depois de todos esses anos, apenas o início deste ano, houve um episódio triste que teve a ver com o bar. “Dois conhecidos nossos passaram um bom tempo bebendo aqui. Na volta, se desentenderam e um matou o companheiro. Não aconteceu aqui. Mas como tinham bebido aqui, a gente ficou muito triste, porque nunca uma coisa assim tinha acontecido”, lamenta Ivo, dono do bar que é mostrado na gravação do Seo Antônio, mas não é explicado. “De primeiro era bem diferente. O povo dizia que o mundo ia terminar. E terminou mesmo. Porque não é mais do tipo que era antes, que a gente tinha que derrubar uma madeira no machado, na mão. Meu pai era transportador de peão. O transporte era feito com carroça. Hoje as coisas são muito fáceis e ainda tem quem ache custoso”, compara Ivo.

A escolinha abandonada.

Na companhia de Seo Antônio, a reportagem de Comcafé foi levada aos pontos que ele considerava mais importantes da localidade. A igreja que é o ponto de encontro e de fé dos moradores e a escolinha, que segundo ele hoje é três vezes menor e está abandonada. Ambas próximas ao Olho d’agua de São João Maria, mostrado no filme como um local e fonte de cura. “Contam que o profeta João Maria passou por aqui. Ele construiu um abrigo e passou um tempo, assim como fez em outros lugares onde as fontes d’agua que ele abençoou nunca secaram”, relata Seo Antônio.

Das poucas pegadas históricas originais, avista-se uma casa com aspecto bem antigo e até bem preservada, onde há algumas pinguelas que levam a outras casas, em seu entorno. Seo Antônio é tomado diversas vezes pela melancolia do lugar, fazendo paradas e relembrando de locais onde já foi um cemitério, residências que na época eram

Olho d’agua de São João Maria.

imponentes e que pertenceram a seu antepassados e que não restou nada. “Os fazendeiros compraram tudo. Não sobrou nada. Por ali tínhamos medo de passar. Era assombrado…”, divaga o guia Antônio em suas memórias de infância e lendas contadas pelos parentes mais antigos que relatavam terem encontrado e desenterrado panelas cheias de ouro. Mas que diante das desavenças pela posse dessas fortunas, elas desapareciam misteriosamente.

O FILME

Seo Antônio não é diretor de cinema, nem ligado ao meio cultural. Ele é agrimensor e sempre achou bonito as criações e apresentações artísticas, por isso se aventurou a fazer o que chama despropositadamente de um filme, que acaba mostrando mais a atualidade

Rio Xagu.

do que referências históricas, pois não seguiu um roteiro, nem teve a menor intenção de ser admirado pelo público, que não seja a sua família que junto com ele, protagonizam num real encontro familiar de final de ano em 2016. Ocasião em que, por estarem festivo, aceitaram atender seu pedido de interpretar algumas cenas no inicio do material. Na sequência, as cenas são aleatórias, em torno do encontro familiar, tendo inclusive uma longa narrativa de um padre que fala sobre o dever dos filhos de respeitar os pais, num viés de pregação e não tendo uma ligação que amarre ao filme.

Não há o que cobrar de Seo Antônio, sobre técnicas ou roteiro de um filme. Vale a iniciativa de tentar fazer algo que de fato não é simples, e sim trabalhoso e caro, de modo que a crítica só é válida quando se faz melhor. Não é possível usar nem aplicar o que não se tem. Seja material ou em termos de conhecimento.

Pinguela sobre o Rio Tigrinho.

 

Por intermédio do Conselho Municipal de Cultura de Laranjeiras do Sul, a obra de Seo Antônio foi mostrada nesta terça-feira (11) no auditório do Centro juventude, obtendo um número expressivo de expectadores, entre frequentadores do espaço, os parentes, amigos e conhecidos do autor que vivem em Laranjeiras, mas que já moraram ou que tiveram familiares oriundos do Xagu dos Marianos.

Ele ainda gravou para o programa Campo Aberto Para a Cultura, que vai ao ar no próximo domingo (16), às 13:30, falando sobre a ideia e experiência em fazer algo que para ele foi apenas uma realização pessoal, no intuito de resgatar a memória de um ente querido, que sempre lhe foi apresentado como referência familiar.

 

Sessão do filme de Seo Antonio, no Centro da Juventude.
Sessão do filme de Seo Antonio, no Centro da Juventude.

2 comentários sobre “Porquê Seo Antonio teve a ideia de fazer um filme sobre o Xagu dos Marianos

  1. Fiquei muito emocionada, ao ler a postagem sobre o filme “Os Filhos da Nossa Terra”, que conta a história da colonização da comunidade Xagu dos Marianos.É como se eu estivesse voltado no tempo lá em 1976, a escolinha….os comentários do senhor Antonio! saudades é o que nos resta! Espero ter a felicidade de assistir o filme! Pois faz parte da minha vida! Hoje moro na capital, mais nunca esqueci de onde vim! Amo e tenho orgulho de todos que com vivi, no Xagu dos Marianos!

    Abraços
    Alcinda Delfrate

  2. Fiquei emocionada!!
    Nasci nesse lindo lugar!!
    Estudei na escolinha!!
    Comprei bala no bar do seu Ivo..
    Parabéns pelo belo trabalho seu António!

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