Vocês têm mulher? Pergunta recorrente nas conversas sobre alianças partidárias

É justo que se faça o mea-culpa pelo fato de, em pleno século 21, o escambo político desafiar a justiça, observando apenas que se tinjam as cotas legais para a participação das mulheres nos quadros políticos.

mulhermercadoriaO efeito ausência ou escassez de representações femininas na política municipal, estadual e nacional, não seria novidade em qualquer época, se continuássemos a ouvir as mulheres dizerem que não podem participar desta ou daquela organização ou evento social, político ou cultural, pois  faz um belo dia de sol e, responsáveis e zelosas que são, precisam lavar a roupa dos demais membros da casa, que precisarão dela na semana que se inicia.

Os serviços domésticos, os cuidados com os filhos, quando não o pudor de estar em locais historicamente frequentado por homens são os grandes vilões quando o assunto é o não interesse das mulheres pela vida pública. Em geral, a desculpa e dada em tom de justificativa devota e é reconhecida, pois esta é uma forma de opressão “branca”, onde as passivas mulheres sentem-se cumpridoras de seus deveres, abrindo mão de espaços onde poderiam ser ativamente eficazes em prol dos tão amados merecedores de afeto e dignidade, o que deveria ir além do circuito sala, cozinha e varanda.

Imagem ilustrativa.
Imagem ilustrativa.

Os homens por sua vez, nem uma culpa têm. Pois a começar pelos exemplos mais próximos e elementares possíveis, quem é que quer abrir mão de privilégios e conquistas adquiridas? Defender a própria zona de conforto, não identificando os atos de opressão e achatamento de possibilidades de outrem, mesmo que seja alguém da família (mãe, irmã, namorada, colega de trabalho) é salutar para a manutenção dos espaços consagrados como masculinos, seja na política, seja em outros segmentos em que essa mulher não gritar pelo seu direito.

Nesse sentido, o caminho é único. Desate-se do cativeiro que te aprisiona. Pare de escolher tirar a poeira dos ambientes domésticos, enquanto os homens da casa saem por aí, perdendo a companhia e conversas esclarecedoras de amigas que possam agregar em seu desenvolvimento sócio-cultural.

Pois enquanto você não disser basta, indo para outras cenas e fazendo sim, mas a sua parte dos afazeres domésticos, sentiremos a náusea de ouvir em reuniões partidárias onde quase sempre só homens falam: “vocês têm mulher?”. Como se fossemos mercadorias nas prateleiras, procuradas apenas para cumprir cota, para viabilizar as composições com o número de candidaturas femininas necessárias para que os homens possam comandar deliberadamente.

Fato é que os organismos de defesa se ocupam apenas defendê-las da violência contra a mulher. Não se faz o trabalho preventivo de empoderamento e ocupação igualitária de espaços e afazeres. Assim se segue na contramão, mesmo que as intenções, aparentemente sejam as melhores.

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.