À esquerda laranjeirense

Diego Mendonça.Diego Mendonça Domingues é Engenheiro civil, formado pela Universidade Federal do Paraná. Pós-graduado em administração tributária e integrante do levante popular da juventude e publica sua coluna todas terças-feiras, no Portal Comcafé.

Esta contribuição não é, e nem poderia ser, uma visão exclusiva de rumo que pode tomar a esquerda em Laranjeiras do Sul/PR. Mas sim, antes disso, o ponto de vista de alguém que chegou há pouco na cidade porém enxerga um vácuo político capaz de ser ocupado por uma força política a qual se proponha a fazê-lo.

Como esquerda conceitua-se o grupo de todos os progressistas interessados no desenvolvimento sustentável da cidade e município laranjeirense e entornos, não necessariamente o território institucional da Cantuquiriguaçu, mas as principais áreas que sofrem influência e influenciam a região do polo Laranjeiras do Sul/PR. Assim, se é seu desejo uma cidade mais dinâmica democraticamente, considere deixar os rótulos de lado, pois na falta de um nome melhor, e de uma teoria das ideologias, por exemplo, escrevo um texto “À esquerda” para buscar transformações como no sentido histórico do termo desde o parlamento francês, sem cair na infantilidade do esquerdismo, que, como vislumbrou Lênin, é a doença infantil comunista.

Primeiramente precisamos reconhecer que a partir do campo internacional da economia vivemos uma ressaca produzida pela crise capitalista global e que chegou ao país atrasada pelas medidas anticíclicas do governo federal especialmente a partir do segundo mandato de Lula em transição para os de Dilma. Medidas essas que seguraram o impacto da crise mundial durante um tempo no Brasil. Entretanto, no campo econômico nacional, não está colocada como possível nenhuma saída popular desta crise que agora avassala a população.

No campo político internacional estão sendo produzidos ataques à democracia especialmente na América Latina, com vistas a retirar principalmente o Brasil de qualquer cenário potencialmente contrário à hegemonia estado-unidense no mundo, de maneira extremamente ideológica e com ajuda da grande mídia. Como resultado mais direto desse avanço neoliberal encontram-se fenômenos como os de Bolsonaro e Movimento Brasil Livre (MBL) captando o ideário de parte da população revoltada que enxerga na corrupção do PT o grande problema da história do Brasil.

Dentro desse contexto, as eleições municipais foram a derrocada fundamental da esquerda, ou de parte dela, no comando do Estado Brasileiro. E ela não modificou as estruturas do poder desse estado enquanto esteve no governo, ao contrário, não criou um canal de comunicação forte de massas, não modificou a natureza da educação pública, não formou politicamente os jovens e não buscou um projeto claro para além da manutenção no poder. Não se pode negar que realizou distribuição de renda (o que não significa diminuir desigualdade social), retirou o país do mapa da fome e abriu uma porta sem precedentes para mostrar que na história podemos ser sujeitos sociais, e, sendo-os precisamos bem avaliar nossas atitudes. Sendo assim, no campo nacional, precisamos, como sempre e mais do que nunca, reconstruir a esquerda, reinventá-la, ressignificá-la, e isso se dá a partir dos espaços municipais.

Algumas considerações são fundamentais dentro do imaginário que se tem da esquerda e que precisamos utilizar para reconstruí-la. Por exemplo, o autoritarismo. Essa aberração comumente associada à esquerda não precisa e nem pode estar presente em nossos discursos. Necessitamos, muito mais que isso, de uma esquerda leve, embora também combativa. O franco bom combate. E não um totalitarismo igualitarista. Essas práticas tem de ser erradicadas.

Outra questão, a esquerda precisa estar aberta a reconhecer em outros ambientes, que não o da sua hegemonia, situações potencialmente revolucionárias. O movimento da população pelo impeachment de Dilma foi um importante movimento, em que pese toda a manipulação tão atacada pela esquerda, foi um movimento de massas, apesar de ter sido feito sob hegemonia de um partido que não é um modelo.

Ainda, o adesismo e o populismo precisam ser encarados de frente. Como dito acima, faltou ao governo petista partir para uma formação crítica de suas bases e de todo o povo para se tornarem verdadeiramente revolucionários.

Essas doenças da esquerda, e não se trata de trocar o movimento real de esquerda por um ideal, são graves pois limitam o alcance das suas atividades e dão armas para os seus adversários.

Vivemos, então, um ataque da direita. E forte. Um golpe que não é apenas institucional, mas que foi construído dentro da materialidade. E as forças que precisamos congregar para que a esquerda seja fortalecida dentro deste momento histórico estão nos setores populares e movimentos sociais que não perderam seu horizonte de esperança. Os que se dispõe a fazer um sério trabalho de base e que se recusam a adaptar-se a uma lógica que transformou a política na arte do possível – um jogo de cartas marcadas que não dão um real direcionamento para a melhoria das condições de vida concretas da sociedade. Precisamos de uma esquerda também fora da lógica eleitoral.

Deve-se recusar, também, qualquer prática sectária. Aglutinar lutadores populares que buscam sinceramente os ensinamentos revolucionários que foram acumulados pela classe trabalhadora e que se recusam aos ensinamentos formalistas de que a humanidade é determinada pela economia.

Precisamos de um projeto. Precisamos de um projeto popular.

Para construir este projeto é necessário criatividade e produção de todos os atores sociais. Pois as tarefas da revolução nacional, democrática e popular, só podem ser o resultado das ações de baixo, e não de imposições de poderosos. Este não é um dilema apenas do povo brasileiro. A crise econômica em curso, profunda e prolongada, coloca o mundo e especialmente a América Latina num dilema: as políticas macroeconômicas desenvolvimentistas aplicadas se mostraram insuficientes pelo fato de que as mesmas ainda estão articuladas com o rentismo financeiro que é parte da crise e absorve boa parte da mais-valia social dos países dependentes. Por isso é dever dos lutadores e lutadoras do povo mostrar que podem construir uma alternativa real para este modelo.

Não sendo um agrupamento eleitoral, também não podemos vilipendiar as eleições na política. Mas precisa-se romper com a lógica da sua centralidade, o que nos coloca a tarefa mais difícil: dispender esforços, criatividade, paciência e ousadia centrados não nos votos das urnas, mas compromissados com a revolução brasileira.

É importante a elaboração teórica e formação política séria sobre os temas relacionados ao cotidiano do povo. Construir, impulsionar e estimular a luta de massas, e a organicidade de nós mesmos como sujeitos históricos. Trabalhar o exemplo pedagógico no lugar do discurso, com ações concretas e buscar a unidade das forças populares.

Laranjeiras do Sul/PR carece de um projeto de cidade. Ele é que o que devemos construir. Necessitamos de um canal de comunicação que vá além do tradicionalismo atualmente colocado, o da neutralidade desqualificada que colabora com as desigualdades vigentes. Precisamos que cada área do conhecimento contribua para este projeto. Os conselhos da cidade, da mulher, da cultura, do trânsito, e o da cidade propriamente dito são exemplos de espaços que precisam de membros da esquerda laranjeirense. Sindicatos devem ser organizados para uma pauta revolucionária, não cooptados por políticos ou partidos nem descolados da política. As associações de bairro são importantes dentro desse projeto, pois é necessário ouvir a população.

Precisamos tomar os espaços para o povo e decidir os futuros da cidade a partir da democracia mais popular. Precisamos trabalhar arduamente para construir um programa de ação que supere incorporando o plano diretor da cidade, o qual é mais uma folha de papel do que um direcionamento para crescimento.

Importante os espaços que favoreçam um debate democrático com participação ativa dos excluídos e reconhecimento dos conflitos. A partir disso, precisamos controlar e orientar os investimentos da cidade. Cobrar um serviço especial de fiscalização de uso e ocupação do solo, integrando os enfoques sociais, ambientais e econômicos.

Detalhar planos executivos é essencial. Priorizar habitação, transporte público e meio ambiente (incluindo saneamento básico e drenagem). Com isso define-se a infraestrutura da formação da cidade e também se formam quadros para a gestão urbana. Estes último, pontos de discussão dentro de uma área específica.

Sozinhos não podemos ser nada. Mas em conjunto podemos fazer uma Laranjeiras do Sul/PR moderna.

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