Educação como conquista aos povos do campo

O colunista semanal de Comcafé, Alessandro Kominecki, que publica às segundas-feiras, é professor de Geografia, especialista em Educação do Campo e membro da APP-Sindicato núcleo de Laranjeiras do Sul. Atua como professor na rede estadual de ensino do Paraná. 

Conhecer a história de povos que obtiveram êxito coletivo na luta contra injustiça, desigualdade, exploração e desrespeito aos direitos da sociedade é fundamental. Dessa forma, os camponeses tomaram para si esta luta, construindo a sua própria história. A educação do campo surge como conquista das bandeiras de lutas dos movimentos sociais, também como resposta aos anos de exclusão dos trabalhadores camponeses, não só, ao direito a terra, mas também negados a estes brasileiros os direitos á educação, a cidadania e a participação política.

Após conquista a terra, os camponeses identificaram a necessidade de assegurar o direito das crianças á escolarização dentro dos acampamentos e assentamentos, pensando em uma educação do campo voltada no sentido de formação humana e também no sentido de formação para organização e luta dos trabalhadores. A consolidação do Colégio Estadual Iraci Salete Strozak no assentamento Marcos Freire em Rio Bonito do Iguaçu organizado em ciclos de formação humana é resultado e símbolo dessa resistência camponesa.

A efetivação da instituição de ensino não tinha somente o intuito de construir uma nova escola, mas também uma nova forma de ensinar e objetivos voltados à realidade dos camponeses. Desse modo, com a resistência do soar das bandeiras do MST, dos educadores e pelos anseios dos camponeses foi implantado o Colégio Estadual Iraci Salete Strozak em um sistema de ensino que passou a atender as necessidades dos assentados.  Como apresentado por Hammel (2007, p.97) na medida em que a escola se constituía também os educadores que trabalhavam ali eram formados. A visão de conteúdo, método, avaliação e prática pedagógica eram transformadas de forma a atender a realidade que se apresentava. Era uma nova escola que se constituía, com educandos e educadores formados a partir de suas vivências e suas necessidades.

A organização por ciclos de formação humana é uma nova forma de se fazer escola, rompe o sistema tradicional de reprovação (forma de exclusão), garante a permanência do aluno (a) na escola (inclusão), direito a educação e a garantia do educando (a) obter uma relação entre o conhecimento científico escolar e suas atividades diárias no campo (conhecimento empírico). Após cada ciclo de formação humana é verificado o desempenho dos estudantes, se o educando apresentou alguma dificuldade automaticamente passa a frequentar a classe intermediária. Ou seja, o mesmo avança para o próximo ciclo, mas passa a frequentar em período contrário a classe intermediária, como forma de sanar as dificuldades que apresentou no decorrer do ciclo. A partir desse diferencial de ensino, o conhecimento produzido pelo estudante passa a ter um sentido útil em sua vida, podendo ser aplicado ao meio que está inserido.

Com a resistência camponesa ao longo da história teve se grandes êxitos, a guisa de exemplo foi à garantia de uma educação de qualidade para seus filhos e próximas gerações, com igualdade e respeito a todos (as). A forma organizativa e sistema de ensino do colégio Iraci Salete Strozak tem diferencial notável, atende aos anseios de um coletivo, rompendo o regime de organização social atual (capitalismo excludente). A educação do campo aos camponeses é reflexo do protagonismo de luta e resistência dos mesmos, os quais são autores (as) de sua própria história.

 

“O proletariado tem como única arma, na sua luta pelo poder, a organização”.

Lênin

 

Referências:

 

Disponível em: http://cedocampoiracisalete.blogspot.com.br/

 

PPP. Projeto Político Pedagógico. COLÉGIO ESTADUAL IRACI SALETE STROZAK, Ensino Fundamental, Médio e Normal. Assentamento MARCOS FREIRE, Rio Bonito do Iguaçu, PR, 2009.

 

HAMMEL, A.C.; SILVA, N.J.C.; ANDREETTA, R. Escola em movimento: A conquista dos assentamentos. 1º Ed. Rio Bonito do Iguaçu, 2007.

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