Ele é o retrato do descaso público com a cultura em Laranjeiras do Sul

Sem ser atraído por algum programa cultural que oriente sua vocação, Marco Antônio Ferreira tenta tocar os instrumentos – que comprou com seu trabalho – na margem da BR 277.

Marco Antônio Ferreira: ele quer aprender música.
Marco Antônio Ferreira: ele quer aprender música.

Marco Antonio Ferreira tem 28 anos e alguns instrumentos musicais que comprou com o dinheiro de ferro velho que foi juntando na oficina da família, onde trabalha, não como mecânico, mas ajudando na organização e limpeza.

Diariamente, à beira da BR 277, próximo de sua casa e trabalho, ele arranha algumas poucas músicas, a exemplo das trilhas sonoras de Titanic e Roque Balboa, além de partes de outras do seu gênero musical preferido que é a música erudita, na esperança que alguém o veja e lhe dê uma oportunidade.

Ele ainda não domina bem as notas musicais.  Conta que já fez parte da Banda Municipal de Laranjeiras do Sul, mas como o tempo é limitado, teve que sair quando começava a aprender as notas. “Quero concluir o ensino médio no curso de Educação de Jovens e Adultos, que estou fazendo, e ver se faço uma faculdade de música para poder aprender. Música é o meu sonho. As pessoas me acham louco por tocar à beira da BR, mas é o que estou conseguindo fazer, nesse sentido”, diz.

DSC00140Marco Ferreira, como pretende ser reconhecido artisticamente, começou com teclado. Ele diz que sua inspiração é o pianista erudito brasileiro João Carlos Martins, a quem gostaria de encontrar, um dia.

Sobre o futuro e se tem esperança de ser acolhido em alguma programa ou instituição que satisfaçam sua vocação, Marcos diz que acredita haver alguma possibilidade, pois percebe crescimento na região e espera que na medida em que muita gente nova está chegando, alguma ação nesse sentido venha a acontecer. “Eu acredito nesse município que é muito novo ainda. Nasci aqui, vejo que chegaram todas essas universidades. Acho que  com isso, coisas que a gente nunca teve, podem vir também”, revela.

DSC00122Embora ainda a ser polido, Marco Antônio demonstra ter a sensibilidade, esperança e delicadeza dos artistas persistentes, quando se coloca tolerante, compreensivo da sua própria situação. Ele é um otimista. Apenas expõe sua necessidade, sua sede de aprender música, que não vem sendo suprida, sem botar a culpa em A ou B. Pois realmente não se trata de culpa. Ninguém dá o que não tem.

Dizer que não existe interesse da população por cultura no município, seria negar a própria essência humana, que naturalmente se agrada e se envaidece ao ver traduzida em possíveis e diversificadas formas, a arte e cultura local, regional e nacional, que vai se expandindo geograficamente, à medida em que se toma gosto pelo conhecimento.

DSC00193E para que os tantos Marcos Antônios, anonimamente espalhados pela região, sem dar vazão à vocação, dom, gosto ou chamado musical, literário, interpretativo ou plástico, tenham o direito de exercerem suas expressões artísticas, um grupo de pessoas, simpatizantes da cultura, vai se organizar e lutar pela criação da Secretaria Municipal de Cultura de Laranjeiras do Sul, assegurando previsão orçamentária e projetos culturais.

O grupo está organizando um encontro no início de março, a partir do qual será encaminhada a criação do conselho municipal de cultura e algumas ações que mapeiem e pesquisem as necessidades de políticas públicas que atendam e fomentem o setor cultural.

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