Incra anuncia escrituração de parte das terras do Quilombo Invernada Paiol de Telha, em Reserva do Iguaçu
Texto: Com contribuição de Gilvani Scatolin Leite.  Fotos: Gilvani Scatolin  e Ana Beatriz  Maia.

Seja pelo cumprimento do acordo com os quilombolas ou pelo interesse financeiro da Cooperativa Agrária Agroindustrial Entre Rios, está prestes a ter um final feliz, uma historia conflituosa que começou há mais de 60 anos. 

Uma das áreas ocupadas, e que será escriturada, conforme anuncia o Incra.

O  representante do   Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Oliveira, afirma que as escrituras de duas áreas de direito dos quilombolas, serão assinadas, nesta terça-feira (22), em Curitiba, e na sequência, inicia o processo de titula9oção dos imóveis.  “Terça-feira a tarde, as escrituras dos dois imóveis da Comunidade Paiol de Telha serão assinadas na superintendência do Incra, na cidade de Curitiba. Assim que forem assinadas, o Incra vai a cartório registrar as escrituras, e em seguida, a gente inicia o processo para titular os imóveis em nome da comunidade”, disse Oliveira, por mensagem de áudio via whatsapp, à presidente da Associação da comunidade quilombola, Mariluz Marques.

Uma das urgências da comunidade pela certificação das áreas do Quilombo Invernada Paiol de Telha, é a exigencia  da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (SEAB),  da apresentação de documentos de certificação da área para compra de maquinário e materiais para construção de um espaço de beneficiamento de podutos agrícolas.

Entenda o contexto histórico do conflito pela Terra, entre os migrantes alemães de Entre Rios e herdeiros do Quilombo Invernada Paiol de Telha

Os migrantes alemães saíram da Alemanha, em 1680. Ficaram 300 anos no Império Austro-Húngaro e Iugoslávia (Império Romano). Em 1914 – 1518, saíram da Iugoslávia (hoje Croácia e Sérvia) para a Austrália (fim do Império Autro-Hungaro).

A primeira expedição alemã para o Brasil, foi em 1949, tendo como destino Goiás, Rio de Janeiro e Paraná. Eram 500 famílias dos suábios do Danúbio (suábios, descendentes dos habitantes da região Sudoeste da Alemanha e que falavam o alemão suábio. Danúbio, relacionado ao Rio Danúbio, maior curso de água natural da Europa.

Entre 1951 e 1952, 2.416 suábios chegaram no distrito de Entre Rios – Guarapuava, que se tornou a única comunidade rural de suábios do Danúbio, existente na atualidade, em moldes semelhantes aos que existiam no sudeste da Alemanha e de outros países da Europa, por onde se fixaram. Era Século XX, e a principal atividade das famílias, o cultivo de batata e trigo, nas propriedades de cerca de 25 a 30 ha, destinados a cada uma. Foram seis anos para pagar a terra. O  governo da Suíça disponibilizou investimento de 31 milhões de Francos ao governo brasileiro para fomentar a agricultura nas colônias que se organizaram em cooperativas, cada uma equipada com cinco tratores. Ao total, foram adquiridos 2.200 ha, e em 1951, fundou-se a Cooperativa Agrária.

A comunidade com cinco unidades: Vitória, Jordãozinho, Cachoeira, Socorro e Samabaia. Os migrantes organizaram cada comunidade por regiões, cultura, dialeto e costumes de origem. O trabalho comunitário foi a base organizacional, considerando que cada pessoa da família tinha uma profissão.

Em 1966, um integrante de nome Matias trouxe  recurso da Alemanha e iniciou uma espécie de reforma agrária interna, visando ampliar a área de cultivo. Com isto, a Fazenda Bracatinga, transformou-se em Fazenda Vitória. Foram nove projetos de reforma agrária, o que também se configurava como projetos de colonização, com base na ajuda mútua. As novas famílias que vinham da Alemanha, eram assentadas em novos lotes, adquiridos da reforma agrária interna. Foram 77 anos de colonização.

A Invernada Paiol de Telha

Uma das áreas ocupadas, e que será escriturada, conforme anuncia o Incra.

Ligada à áreas explorada pela Cooperativa Agrária Agroindustrial Entre Rios – do lado pertencente à Reserva do Iguaçu, encontrava-se uma fazenda escravagista, cujas terras tinham sido doadas pela escravocrata Balbina Francisca de Siqueira, para 11 trabalhadores e trabalhadoras escravizados.

Em 1960, motivados pelo “boom” da soja e créditos rurais do modelo do agronegócio, que favorece as grandes cooperativas, os suábios com a ajuda de um tal delegado Pacheco, tomam as terras dos ex-escravos, expulsando os com muita violência.  Sem ter para onde ir, muitas pessoas foram viver num acampamento às margens da Rodovia PR 459.

Resistência

Um dos barracos às margens da PR 459, onde os quilombolas se abrigaram, após serem expulsos de suas legítimas terras.

Em 2015, os herdeiros dos quilombolas que ganharam as terras, voltaram a ocupar a área que lhes pertence por direito. Após conflitos, um acordo feito com a Cooperativa Agrária estabeleceu que permanecessem numa parte da área. Pela necessidade de retomada da área integral de direito para plantio e criação de animais, em dezembro de 2017, os quilombolas ocuparam uma nova área. Após, diversos entraves e intervenção judicial, o processo que devolve parte das terras aos quilombolas, está prestes a ser concluído.

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