José Augusto Beck Lima: De popular gestor público ao oportuno anonimato

 Sobre o nome popular, “Zé do Povo” ele diz que foi o nome que criou para enfrentar a concorrência “eu tinha o Rei do Chimarrão como adversário”, argumenta.

José Augusto Beck Lima.
José Augusto Beck Lima.

Gaúcho de Palmeira das Missões, José Augusto Beck Lima, hoje com 75 anos, conta que chegou em Laranjeiras do Sul aos 19, como jogador de futebol profissional do Internacional, emprestado para o Clube Operário. Mais tarde, ele cursou Letras numa faculdade de Palmas (tendo lecionado como professor PSS), casou-se com uma médica de Ponta Grossa, que veio morar aqui, estabelecendo se no município para onde sua família também veio.

Zè Augusto teve uma trajetória política ininterrupta. Começou como assessor na Câmara de Vereadores, em seguida se elegeu vereador (1983-1988), na sequencia foi vice de Lauro Ruths (1989-1992), e apoiado por ele, tornou-se prefeito na gestão seguinte (1993 – 1996), pelo PTB, período em que diz ter tornado realidade, as vontades que tinha como gestor público, enquanto era vice-prefeito.

O ex-prefeito, antecipa a entrevista dizendo que teve uma gestão marcada, dentre outras ações, pela geração de emprego. “Todos saiam para trabalhar fora de Laranjeiras. Era uma cidade cheia de viúvas de maridos vivos, que tinham de deixar a família e ganhar algum salário onde contratassem”, diz, ao mencionar que liderou a vinda de empresas geradoras de emprego, dando como exemplo o Frigorífico Cascatinha.

E quais foram as suas ações mais importantes?

Fiz 300 quadras de asfalto. Hoje ainda são 350. Eu e o Tilim, tínhamos uma parceria muito boa. Eu cuidava da parte política e ele da parte técnica. Quero destacar também o Caic. Quando o Collor ainda em campanha, esteve aqui, vendo a mobilização que fizemos com muita gente presente, ele se impressionou e me disse pessoalmente no palanque, repetindo para a população, que para este município destinaria uma unidade do Caic, projeto que tinha como prioridade e que executou. Foi uma oportunidade importante que aproveitamos para assegurar a vinda da obra.

Então o seu mandato gerou empregos. E o povo reconheceu isso?

Eu sempre fui muito festivo, muito próximo das pessoas. E o povo, no bom sentido quer pão e circo. Pão que é o trabalho e circo que é a diversão, o lazer. E nessa época proporcionamos lazer, tendo promovido eventos como a Festa do Pinhão, a Fenalar, e trazido shows nos quais eu fingia que estava cantando (risos). Cantava com o microfone desligado e eles gostavam, se divertiam. Também distribuía cerca de cinco mil bonés, nesses shows, o que ainda era permitido, nessa época.

O senhor teve um período longo na política. Mas hoje, as pessoas lembram mais do José Augusto, relacionando-o com o caso Jabel, como foi isso?

Tive mandatos contínuos por 16 anos, entre vereança, vice-prefeitura e como prefeito. Era de fato popular, e além da política, o meu cunhado e eu tinhamos uma agência financeira, que ele tocava. Após a minha gestão como prefeito, como estava indo bem, ele queria me inserir mais nos negócios. Mas eu nunca participei da administração dessa financeira. Só via que se ampliava, estava tomando proporções de um banco privado, que ofertava juros atrativos nas aplicações. Com isto, muitas pessoas investiram. Houve um momento em que ele apostou em alguma meta errada, quebrou e muitos não receberam nem o capital investido.

Então o senhor não se vê com responsabilidade sobre isto?

“Eu nunca peguei dinheiro de ninguém. Fui traído por um cunhado que me envolveu nisto. A empresa existia há mais de 10 anos, as pessoas procuravam a agencia, queriam investir e muitos ganharam dinheiro sim. O problema foi com os últimos que aplicavam o dinheiro por um ano, a juros entre 4 e 6% ao mês. E tem mais, em geral, quem investiu alto foi cumplice dele e quebrou junto. Porque era dinheiro não declarado. Eu, quando dialoguei com algumas dessas pessoas, que vieram me procurar, disse a elas: vocês foram espontaneamente ao estabelecimento e trataram lá. Eu nunca tomei dinheiro de vocês.

E sua ausência de Laranjeiras, tendo até caído no anonimato político, não denota que o senhor também responde pelo caso Jabel?

Veja, eu me ausentei de Laranjeiras e da Política, por problemas relevantes, pessoais, de saúde, e também por isso. Mas esse problema financeiro, me envolveram. Na verdade fui vítima. Tive um prejuízo de R$ 900 mil, entre advogados e bens.

Seus parceiros políticos ainda são os mesmos?

Não, não. Naturalmente, me afastei de muita gente. O Berto que foi minha criação política, falo as vezes, mas quase nunca sobre política. Nos encontramos em casa de amigos em comum. E os outros estão por aí, tocando seus projetos.

O senhor quer dizer que foi o mentor político do ex-prefeito Berto?

Sim, o Berto quando veio para Laranjeiras, trazido pelo deputado Nereu Moura, ficou por muito tempo em minha casa. Fomos grandes amigos. Mas também tivemos desentendimentos. Desejo que tenha boa sorte. Ele superou o criador.

E tem alguma coisa que o senhor lamenta não ter feito?

Peço desculpas por não poder ressarcir o prejuízo das pessoas, embora não tenha uma responsabilidade direta sobre isto.

Ao concluir, a entrevista, José Augusto ressaltou que agora filiado ao PMN – Partido da Mobilizaçã Nacional, estava viabilizando sua possível candidatura a prefeito por Laranjeiras do Sul, para 2016. No entanto, notícias recentes, dão conta de que ele foi preso pela Polícia Federal, por questões relacionadas ao caso Jabel, o que deve complicar seus planos políticos.

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