Da série ex-prefeitos de Laranjeiras do Sul, que completa 69 anos em 30 de novembro:


Rangel de Souza Mueller, ex-prefeito de Laranjeiras do Sul (1973 - 1977).
Rangel de Souza Mueller, ex-prefeito de Laranjeiras do Sul (1973 – 1977).

Ele acumula histórias e vivencias dedicadas a mudanças que hoje já foram ultrapassadas, graças ao desenvolvimento da região.

Foi com calma, serenidade e bom-humor que aos 84 anos, o ex-prefeito Rangel de Souza Mueller, recebeu a reportagem em sua residência – a mesma do tempo que foi prefeito – para uma entrevista sobre a sua experiência como gestor municipal de Laranjeiras do Sul, entre os anos 1973 a 1977, quando ainda não havia reeleição.

Ele se antecipa dizendo que se existisse reeleição, também não teria participado pois viveu uma árdua experiência, mesmo com maioria na Câmara e praticamente sem oposição. De acordo com Rangel, que foi prefeito pela Arena 1, em pleno período militar, eram 11 vereadores à época, todos voluntários. “A prefeitura auxiliava com uma coisa ali outra aqui, principalmente os aliados (risos), mas eram ajudas simbólicas para que percorressem o longo trecho de territórios que tínhamos”, lembra o ex-prefeito, destacando que dos 3.400 Km² de território, hoje são 601 Km², após os desmembramentos dos municípios de Nova Laranjeiras, Rio Bonito do Iguaçu e Porto Barreiro.

Sobre os caminhos que o levaram a ser prefeito, conta que embora tenha sido dentista de profissão, também foi secretário de Educação do Ex-prefeito Amandio Ziger Babinski, chefe de gabinete do ex-prefeito Lauro Ruths, que já havia sido prefeito e o sucedeu, Assessor da Câmara Municipal, junto com José Augusto Beck Lima e inspetor Regional de Ensino, função hoje, de Chefe do Núcleo Regional de Educação. Depois de todas as experiências, Rangel Mueller conta que se aposentou com 1,5 salário mínimo, por tempo de contribuição ao INSS. “Sem falar que os salários que recebíamos gastava muito com trabalho social. Não havia o SUS, e sempre tive um compromisso com isto”, acrescenta.

O que era e continua sendo um problema de gestão, no seu tempo e hoje?

Rangel: Dinheiro. Só que antes era a falta de dinheiro, fazer alguma coisa com a miséria que tínhamos, sem que existissem emendas ou ajudas extras dos governos. Hoje felizmente, é administrar os milhões que são destinados para projetos nos municípios.

Foram mudanças muito positivas, então?

Sim, Felizmente. Naquela época, o Brasil todo era muito pobre. Faziam queimadas para limpar os pastos com uns boizinhos chifrudos dentro das invernadas. Veio a tecnologia, a melhora genética, mecanização das lavouras, correção de solo passando a se produzir muito num alqueire de terra.

Como era a infraestrutura administrativa do seu tempo para atender um território tão grande?

Quando assumi, tudo era uma sucata. Sucedi o ex-prefeito Amandio Babinski, que era um político muito popular. Ele me apoiou, tinha uma força política impressionante. Então nunca escancarei as dificuldades encontradas, mas não havia sequer uma máquina funcionando. Tive que comprar seis patrolas, quatro tratores e quatro caminhões. Todos pagos até o final do meu mandato.

E quais foram as obras mais importantes, que marcaram a sua gestão?

O asfaltamento das Ruas Marechal Rondon e XV de Novembro me marcaram muito. Porque foram as primeiras ruas centrais asfaltadas. Foram 22 mil metros de asfalto e 14 mil metros de pavimentação com pedras irregulares. Mas também fizemos 36 escolas no interior e na cidade, inclusive a que hoje é o Colégio Gildo Aluísio Schuck. Também foi nesse período que chegou o sistema de telefonia. Mais precisamente em novembro de 73. Nessa época havia cerca de 40 mil habitantes no município, era uma novidade e tanta. Mas tiveram outras coisas tão ou mais importantes.

Mais importantes ainda, quais?

Foi nesse período que fizemos o primeiro contrato com a Sanepar, por exemplo. Não havia sinal de televisão. Então aproveitamos o acesso da torre da Telepar para erguer uma antena lá perto. Mas logo foi superada pela colocação das antenas de microondas, feitas pelo governador Pimentel. A APAE também teve início nesse tempo e foi algo muito importante.

E do ponto de vista social, o que acontecia naquela época que lhe chama a atenção ainda hoje?

O que mais acontecia eram homicídios. A prefeitura tinha de intervir. Era o reduto dos pistoleiros profissionais. Vinham contratar matadores aqui para fazer crimes em toda a região.

O senhor considera ter feito uma boa gestão, dentro das condições da época?

Bem, apesar das dificuldades, fui considerado o prefeito mais honesto. Não sei se falavam de coração, mas diziam isto. Minha gestão foi pouco conhecida, pois não avia outro veículo de comunicação, além da Rádio Educadora, que pertencia ao meu adversário político.

E o que o senhor se arrepende de não ter feito na sua gestão?

Não diria arrependimento, mas uma certa frustração que ainda me marca, foi não ter feito acontecer o Parque Industrial, que veio a ser feito depois, mas eu queria ter feito e mesmo com todo o convencimento, reprovavam. As coisas poderiam ter se desenvolvido antes.

E alguma curiosidade histórica do seu tempo que as atuais gerações possam não ter conhecimento?

Minha história começa antes da morte do José Nogueira do Amaral, cujo depoimento pessoal e de familiares é de que por ter se envolvido em matança, inclusive de policiais, em São Paulo, o trouxeram para frente de onde costumavam soltar os criminosos com um saco de sal e um facão, para que enfrentassem os bravos Índios. Ele, trouxeram até o Rio cavernoso para garantir que haveria o confronto e o castigariam. Mas não só sobreviveu como ficou amigo dos indígenas que o protegeram. Essa versão era repetida pelo irmão dele que morreu mais tarde, o Osório. Outra curiosidade, é que na estradinha que hoje leva até a Toca do Leão, havia um cemitério Clandestino, onde foi enterrado o próprio José Nogueira do Amaral. Não que fosse oculto, mas não era oficial, era coisa de praticidade da época. Havia a intenção de preservar, mas passaram por cima e fizeram lavouras.

Outro nome que Rangel cita com intimidade é do Cel. Guilherme de Paula, que foi bisavô de sua esposa. “Esse chegou a ter 900 alqueires de terras nesta região e mais cinco mil alqueires em Campo Mourão. Fazia a cavalo o trecho daqui para lá. Ele teve 19 filhos e quando fizeram o inventário, quem concordasse em receber em Campo Mourão, ganhava o dobro de terras”, conta.

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