Jornada da Reforma Agrária na UFFS promove feira agroecológica e debates sobre políticas públicas para o setor

A resistência à falta de investimentos públicos que fortalece mais ainda o agronegócio, escancarando a intenção de aniquilar a produção sem veneno, assim como a exposição da pulação aos agrotóxicos foram a tônica dos debates, durante a Jornada da Reforma Agrária. A média nacional de veneno por habitante é de 7 kg/ano. Entretanto, há município da Cantuquiriguaçu que garante 116 kg de veneno/ano por morador, a exemplo de Virmond.

A Jornada da Reforma Agrária, realizada nesta quarta e quinta-feira (20 e 21), no Bloco A da Universidade Federal da Fronteira Sul de Laranjeiras do Sul, contou com a participação dos assentados e acampados da Reforma Agrária da região da Cantuquiriguaçu, tanto nos debates que tiveram como foco principal a atual conjuntura, políticas públicas e estratégias de resistência para que os movimentos se fortaleçam internamente, rumo à produção de alimentos sem veneno, como no campo prático e pesquisa, apesar da falta de subsídio.

A comunidade acadêmica da UFFS também participou da realização e debates do evento, reforçando-se como suporte científico, tanto nas práticas que a região desenvolve como teoricamente, favorecendo o entendimento sobre a importância da contraposição das ideias. O professor da UFFS, Pedro Ivan Christoffoli, apresentou dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), que apontam a quantidade em Kg de veneno que cada habitante da região Cantuquiriguaçu, está exposto por ano, coincidindo com reflexos observados na saúde pública, a exemplo de suicídios, cujas pesquisas apontam como causa a ingestão de agrotóxico que leva a depressão que induz a ideação suicida.

“O povo brasileiro consome em média 7 Kg de veneno por ano. Até os bebês recém nascidos já tem garantido essa quantia. Mas há municípios da nossa região que batem todos os recordes. Um exemplo é o município vizinho de Virmond, que de acordo com o levantamento realizado pelo IPARDES, garante 116 Kg de veneno ao ano, por habitante. Assim, embora não se associe, temos cerca de 2 pessoas por semana, se não mais, cometendo suicídio na região”, instiga o professor Christoffoli.

Convidado especial para o evento, o professor Dr. Bernardo Mançano Fernandes da UNESP – Universidade Estadual de São Paulo, desafia o MST a criar um setor de metodologia em Pesquisa. “O MST trabalha com comunicação, educação, saúde e cultura, tendo gente capacitada para criar um setor com sua própria metodologias em pesquisa”, ressaltou Mançano, dizendo estar cada vez mais convencido de que o futuro da agricultura familiar está em criar seu próprio complexo de sistemas.

Mançano ressaltou ainda a importância da comunicação praticada pelos movimentos sociais. Uma comunicação que segundo ele, não se pauta em ataques, mas em contrapor notícias que distorcem os objetivos do segmento agrário familiar. “A partir dos  paradigmas da questão agrária e do capitalismo agrário, ao observa-los como referência, é possível compreender os estudos geográficos, econômicos, sociológicos, políticos, antropológicos e sociológicos. Todos eles. Portanto, o embate é no campo das ideias, das leituras e das interpretações”, salientou o professor.

Durante os dois dias do evento, a produção agroecológica dos assentamentos da região foram expostas e comercializadas dentro do campus universitário. Também foram ofertados conteúdos literários a partir de pesquisas que abordam as questões agrárias e disponibilizados serviços de instituições parceiras que assessoram o MST e demais movimentos. Ao todo, são mais de 5 mil famílias, entre assentadas e acampadas, na região Cantuquiriguaçu.

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.