Padre acredita que a cor de sua pele tenha sido motivo de excesso da PRF-Laranjeiras do Sul, numa abordagem a ele

A discriminação, segundo o religioso, foi sentida nas perguntas, feitas fora do contexto da abordagem, o que ele atribui ter sido pelo seu estereotipo.

O Padre Crispin de Jesus, que é negro, natural da República Democrática do Congo no continente africano, relatou publicamente durante uma missa realizada pelo atual pároco, Padre Domênico, na Matriz Santana em Laranjeiras do Sul, ter sido abortado de forma discriminatória pela Polícia Rodoviária Federal, posto de Laranjeiras do Sul, quando voltava de uma atividade na comunidade do Palmeiras, há três semanas.

O padre confirmou seu desconforto e sentimento de discriminação, à reportagem de Comcafé, nesta quarta-feira (09), pois segundo ele, o policial foi além do que compreende ser uma abordagem comum, quando documentos pessoais e do veículo são aferidos. (Até quando o policial me parou, pediu os documentos pessoais, foi conferir, voltou e pediu os documentos do carro e também foi conferir, levando um tempinho, achei tudo normal. Até aí, ele estava fazendo o seu trabalho. E até mesmo quando me pediu para fazer o teste do bafômetro, e eu fiz, nada de mais. No entanto, ele começou a me fazer as seguintes perguntas, mesmo tendo visto minha identidade religiosa e que estava tudo certo com meus documento e do veículo:  de onde você está vindo agora? Você tem família? Quantos irmãos tem? Então eu disse a ele que aquelas perguntas eram pessoais e não faziam parte de uma abordagem. Houve ali uma suspeita insistente. Me senti muito mal, constrangido, tendo de argumentar que aquilo era desnecessário. Ele então me liberou. Mas fiquei muito nervoso com o excesso. Gostaria que isto não se repetisse mais”, conta o padre Crispin, questionando qual o motivo do policial tê-lo suspeitado?

De acordo com o Padre africanos, a  sensação de  preconceito, quando chegou ao aeroporto brasileiro há seis anos, já foi muito forte. “Estávamos numa fila com várias pessoas. Mas somente eu fui convidado a seguir os seguranças para uma revista na alfândega. Você pode imaginar procurarem algo, droga que fosse, na sua cabeça sem cabelos? Passei os primeiros três anos em São Paulo. Lá, a presença de diversas etnias é uma realidade. Me senti abraçado, acolhido, fiz muitas amizades e foi mais tranquilo do que imaginei, após o constrangimento no aeroporto. Depois passei dois anos em Curitiba. Cidade onde me senti deslocado, pois na cultura do povo africano, a convivência e amizade são muito importantes para nós. E lá, quando acabava os encontros as pessoas se isolavam, não havia esse contato”, comenta o padre, observando que sentiu de perto o que ouvia cogitar que Curitiba era fria no clima e na relação com as pessoas.

Mensagem do padre Crispin à sociedade, sobre a questão do racismo

“Infelizmente, todo mundo lida com uma situação concreta, de acordo com a sua educação e convicção. Mas acredito que tem gente boa, que valoriza qualquer um sem olhar para cor, por exemplo.  Eu, como padre missionário, quero aqui deixar uma mensagem de fraternidade universal. Que todos os homens, mulheres e crianças, independente da sua cultura, da sua cor, independente da religião, sejam respeitados no seu estado, na sua condição de vida. Porque todo o ser humano merece a dignidade do respeito”.

Além do episódio que o desgostou, em relação à abordagem policial, o padre diz que tem se sentido a vontade com a comunidade laranjeirense, e que está gostando da cidade. Alerta que é preciso ter cuidado para falar sobre racismo, pois é algo muito delicado. Mas que não se furta em tocar no assunto, no sentido de contribuir para o esclarecimento “é apenas no sentido de buscar aquilo que nos ajuda a viver juntos”, ressalta.

 

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