A contaminação da água que bebemos. Ou: não é que o agro é POP mesmo?

Por Pedro Ivan Christoffoli

Dando continuidade ao nosso tema de discussão na coluna anterior, vamos seguir aprofundando a reflexão sobre o uso da água em nosso país e região. Uma reportagem recente apontou que apenas 4% dos rios brasileiros monitorados por uma pesquisa da ONG SOS Mata Atlântica (entre mais de 200 rios) têm água de boa qualidade. Mais grave ainda, um em cada 5 rios (20% das amostras) indicaram condições ruins ou péssimas da água. Vários deles são qualificados de esgotos a céu aberto, como o Tietê em SP e outros rios menores, até mesmo em Curitiba, a nossa “capital ecológica”.

Nessa mesma linha, pesquisa científica da UFFS na região de Realeza identificou 8 tipos de agrotóxicos presentes na água utilizada para consumo das cidades da região. Outro dado fornecido pela Secretaria Estadual da Saúde informa que em 2011 foram aplicados 9,6 kg por hectare de agrotóxicos no Estado do PR. E esse número só cresce (e é maior na região da Cantuquiriguaçu). Os dados nacionais, levando em conta o consumo de agrotóxicos por tipo de cultura e área, indicam que o consumo médio de agrotóxicos (herbicidas, inseticidas e fungicidas) por hectare de soja foi de 12 litros, o de milho 6 l/ha; de algodão 28 l/ha; de cana 4,8 l/ha; de cítricos: 23 l/ha; de café: 10 l/ha; arroz 10 l/ha; trigo: 10 l/ha e feijão: 5 l/hectare. E é óbvio que uma parcela desse veneno vai parar na água que consumimos.

Como chegamos a esse ponto? Porque aceitamos passivamente a ingestão via água potável, de doses crescentes de produtos químicos e orgânicos poluentes? Uma das explicações acerca dessa questão está ligada ao sucesso do agronegócio. Isso mesmo! Exaltado pela Rede Globo em comerciais como o “Agro é  POP”, a série de filmetes propagandísticos acríticos e ufanistas que vemos todos os dias na TV. O sucesso do produtivismo agrícola levou à contaminação ambiental gravíssima que vivenciamos.

O curioso é que o acrônimo POP também é conhecido internacionalmente como a sigla de Persistent Organic Pollutants (ou poluentes orgânicos persistentes). O controle desses compostos químicos foi estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) em uma convenção internacional em Estocolmo, na Suécia, da qual o Brasil é signatário. Esses produtos tendem a bioacumular no organismo humano, em especial nas gorduras, provocando uma série de doenças. Estão nessa lista os agrotóxicos: aldrin, chlordane, DDT, dieldrin, endrin, heptachlor, hexachlorobenzene, mirex e toxaphene. Posteriormente foram acrescidos outros pesticidas agrícolas como o Lindane e Endosulfan, todos produtos amplamente utilizados pelo agronegócio brasileiro, vários agora já banidos de nosso território. Essa lista não inclui outros venenos igualmente preocupantes, como é o caso do glifosato, que responde pela maior fatia do consumo de agrotóxicos no Brasil, e que tem potencial carcinogênico (câncer) além de outras doenças sob investigação (dentre elas Autismo e Alzheimer).

Portanto, é triste mas é verdadeiro, o Agro é POP não só pelo que a Globo exalta, mas também e cada vez mais, por trazer poluentes químicos altamente prejudiciais aos seres vivos, nós humanos, entre eles. Esse tema, focando a realidade do uso e contaminação por agrotóxicos em nossa região será o tema da próxima coluna.

Para aprofundar mais sobre o tema da poluição da água em nosso país, sugiro ver um vídeo veiculado pela TV do senado brasileiro: http://www.youtube.com/watch?v=UwRnzKeSn9k&feature=youtu.be

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