Alemão visita movimentos sociais da Cantuquiriguçu, e fala sobre agricultura e agroecologia

A visita foi articulada pelo vice-reitor e professor da UFFS, Antônio Adrioli, durante manifestações contrárias aos desequilíbrios ambientais causados pela forma inconsequente da logística europeia e recorrentes recordes de produção de monocultura na América Latina.

Manifestação na Alemanha, em janeiro de 2018.

Em recente viagem à Europa, o professor e vice-reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul, Antonio Andrioli participou de uma manifestação, a convite da organização Pão para o Mundo, em Berlim na Alemanha, quando, além de denunciar os diversos males –  a exemplo desmatamento e uso desenfreado de agrotóxicos no Brasil, sobretudo para a produção de soja que é exportada para a Europa e demais continentes – estreitou laços em prol do fortalecimento das ações locais na Cantuquiriguaçu.

“Para abastecer a demanda de proteína na produção de animais da Alemanha é necessária uma área de aproximadamente 2,3 milhões de hectares na América Latina, o que corresponde ao tamanho do Estado de Mecklenburg-Vorpommern”, disse Andrioli, em entrevista a um jornal alemão, em resposta a uma afirmação de que a Europa quer alimentos baratos.

A preocupação de Andrioli, também foi manifestada em relação ao que se faz com o excedente da produção de soja da Alemanha, a partir da opção pela soja mais barata, adquirida no Brasil. De acordo com ele, esse excesso é vendido à União Europeia, que exporta para a África, acabando com a produção local deste país. “A forma como a Europa lida com esses produtos destrói a nossa agricultura local, contamina a natureza e nossas águas no Brasil e, através das longas vias de transporte, prejudica o meio ambiente”, ressaltou.

Entrevista com Stig Tanzmann

Tradução do Alemão para o Português: Antônio Andrioli
Durante visita ao Ceagro.

Representando a organização Pão para o Mundo, o alemão Stig Tanzmann, durante visita à comunidade acadêmica do curso de Educação do Campo da UFFS e assentamentos da Reforma Agrária em Rio Bonito do Iguaçu, Laranjeiras do Sul e Quedas do Iguaçu, concedeu a seguinte entrevista à reportagem de Comcafé, expondo que na Alemanha, a produção ecológica também está sendo apropriada de forma excludente e com objetivo apenas comercial.

 

 Qual sua apreensão sobre as experiências de Reforma Agrária no Brasil?

R: E uma pergunta bastante difícil. Primeiro quero dizer que um movimento desse tipo, nós na Alemanha, não temos. Mas o que que temos de uma forma bastante crescente, especialmente no Leste da Alemanha, é o aumento da concentração de terras. E muitas vezes não são nem pessoas que são as proprietárias dessas terras, mas sociedade de acionistas e grandes empresas, podendo ter empresas ou investidores que acumulam de 10 a 20 mil hectares de terras.

 

A finalidade na Alemanha, e a mesma do Brasil, poderio econômico e político?

R: No geral sim. São grandes investimentos financeiros que passaram a utilizar dos seus recursos, as vezes imobiliários para acumular capital. E por outro lado tem muitos jovens que gostariam de utilizar essas terras e que agora não tem acesso e não podem mais ser agricultores.

 

Isso, assim como no Brasil, tem um reflexo de falta de controle em relação prejuízos ambientais, por meio da produção em larga escala?

Sim. Tanto uma coisa quanto a outra. Lá temos muitos produtores que utilizam agrotóxicos. Mas também precisamos dizer que existem agricultores ecológicos que participam do mercado financeiro e as vezes acumulam milhares de hectares. Existem grandes investimentos e quando percebem que a agricultura ecológica passou a ter maior demanda, então investem nisso porque assim conseguem ganhar mais dinheiro. Mas isso é uma decisão capitalista, não tem nada a ver com a questão de ajudar de alguma forma social. Pode ser que nesses lugares coloquem trabalhadores da Bulgária ou da Romênia, simplesmente porque eles aceitam salários mais baixos. Isso não significa que não temos também, por outro lado, um grande movimento crescente de agricultores que continuam existindo como camponeses. E nas cidades está aumentando a preocupação dos consumidores em relação ao que está se fazendo na agricultura. Existem pessoas e grupos que se juntam nas cidades para adquirir terras e produzir de forma camponesa e natural.

E qual é a escala da produção ecológica na Alemanha?

Existe um aumento contínuo de em torno de 5% de área por ano, de agricultura ecológica. No total já chegamos a cerca de 10%. E a previsão é que até 2030, cheguemos a 20% da área de terra da Alemanha ocupada da produção de agricultura ecológica.

E o que mais se produz na produção orgânica? Há uma policultura?

No contexto europeu o decisivo é a rotação de culturas. No mínimo cinco plantas ou até 50 plantas que precisam ser anualmente colocadas em sucessão uma a outra para que a rotação de culturas aconteça.

Agricultor camponês que fez sua formação ecológica em duas propriedades e também estudou agronomia.

Além da UFFS, o visitante alemão Stig Tanzmann visitou os assentamentos da Reforma Agrária, de Laranjeiras do Sul, de Rio Bonito do Iguaçu e Quedas do Iguaçu, com o objetivo de conferir projetos e avaliar novas propostas de parceria.

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