Com frieza autor de feminicídio em Rio Bonito do Iguaçu tenta justificar o crime contra a esposa

Feminicídio foi adicionado ao rol dos crimes hediondos (Lei nº 8.072/1990), tal qual o estupro, genocídio e latrocínio, entre outros. A pena prevista para o homicídio qualificado é de reclusão de 12 a 30 anos. O feminicídio é a instância última de controle da mulher pelo homem: o controle da vida e da morte e se expressa como afirmação irrestrita de posse.

Delegado Wilkinson Fabiano Oliveira de Arruda

Carine Pires de Lima Borba, 25, foi morta a facadas, ontem (28), pelo esposo, Iraci Florêncio de Borba, 35, com quem era casada há oito anos, enquanto trabalhava de diarista em uma casa, nas proximidades da sua. Eles tiveram Três filhos, dois meninos e uma menina, que estão com a avó paterna, enquanto a mãe está morta no IML de Pato Branco e o pai – preso em flagrante e tendo confessado o crime – se encontra preso na 2ª SDP, em Laranjeiras do Sul. Ainda não se sabe sobre a família de Carine (ele diz que a conheceu em SC), sendo que nenhum havia procurado saber sobre o ocorrido.

De acordo com o delegado responsável pelo caso, Wilkinson Fabiano Oliveira de Arruda, Iraci tentou acobertar o crime, mas caiu em contradição e uma prova muito importante foi fundamental para associá-lo à autoria da morte da mulher. “Ele entrou descalço na casa. Talvez com a intenção de não deixar rastros. Pisou no sangue dela dentro do banheiro, antes de sair da cena do crime, e a partir dessa pista, não tivemos dúvidas, pois só havia dois homens que sabiam onde ela estava naquela tarde”, disse o delegado. Ele contou ainda que o dono da casa em que Carine trabalhava, no momento do crime, calça tamanho 43, enquanto que a marca deixada é compatível com o pé de Iraci, que calça 41. “Fui colhendo contradições. Outra delas a de que ele teria insistido para ver o corpo da esposa, quando o dono da casa foi informá-lo da morte. Quando fui perguntar, fui informado de que ele apenas indagou por ela quando o viu, mas não ouve nenhuma insistência”, conclui o delegado, explicando as confrontações de informações que Iraci foi sendo colocado, até que confessou o crime. No entanto, os relatos dele, antes da confissão, foram muito bem pensados para simular que era inocente, a ponto de ser o interrogatório mais difícil que diz já ter feito, para obter a confissão do crime, contou o delegado.

Iraci Florêncio de Borba

Para a entrevista Iraci aparaceu rindo – não se sabe se por constrangimento ou outro sentimento que possa ser transmitido pelo riso – o que segundo o delegado, mostra seu grau de frieza e talvez de psicopatia. Chorou apenas quando foi perguntado sobre os filhos, tendo sido a primeira vez que derramou uma lágrima, desde que o encontraram, disse o delegado:

Comcafé  – Você confessou que matou sua esposa, por que fez isso?

Iraci – O nome dela é com C, não com K (corrigiu a grafia na anotação), entes de responder…por traição pelo celular. Ela mudou muito desde outubro, quando começou a falar com um rapaz de fora, e por último, disse que não me amava mais.

Comcafé – Você disse traição. Mas se ela disse que não o amava mais, por que não se separou dela?

Iraci – Fui pedir ajuda para o pastor da minha igreja (Assembleia de Deus), ele disse que se a gente não tava se entendendo era melhor eu aceitar que ela fosse embora. Mas ela arrumou as coisas e não foi. Disse que não queria deixar as crianças e que o rapaz do Rio de Janeiro com quem trocava mensagens tinha se desiludido dela porque ela pensou que estava gravida novamente. Mas não estava. Semana passada, ela faltou no serviço porque veio pra cidade, consultar com uma ginecologista para fazer desligamento de trompas e não correr o risco de engravidar. Ela não fazia mais nada. Não cuidava mais da casa nem dos filhos. Só ficava falando com ele.

Comcafé – Ela amava os filhos?

Iraci – Amava. Ela não estava mais cuidando deles. Mas amava muito e eles também amam ela.

Comcafé – E você, amava ou ama seus filhos? Você pensou que eles iriam ficar sem a mãe, sem nenhum de vocês? Ou pensou só em si mesmo, no seu orgulho por ela desejar viver com outra pessoa?

Iraci – Eu amo eles demais. Pensei que se eu não pudesse ficar com eles porque ela queria ir embora e eles iam querer ir com ela, então não iam ficar com nenhum. Não sei agora o que eles vão pensar de mim.

Comcafé – Você disse que ela não fazia mais nada. Mas ela estava trabalhando de diarista quando você a matou. Você a ameaçou antes?

Iraci – Ela trabalhava de diarista só um dia por semana. Eu nunca tinha encostado um dedo nela para feri-la. Foi a primeira vez que tive esse descontrole e foi desse tanto. Não aceitei que ela não me queria mais. Lembro que dei três facadas e depois não lembro mais. Me lembro de ter ido pro o mato tentar me esconder e depois ter ido buscar as crianças na escola.

Comcafé – Você foi até onde ela estava para matá-la. Planejou isso. Levou a arma?

Iraci – Fui lá para vê-la. Mas na conversa, aconteceu. Eu andava com equipamentos de trabalho. Sempre andei com faca, tesoura e outros equipamentos p/ fazer jardinagem. Fim.

Na investigação da polícia, constatou-se que Iraci foi até a casa onde Carine estava por um caminho alternativo, pelo meio de uma plantação de milho, tendo deixado a bicicleta escondida. Mesmo caminho que usou de volta, depois do crime, quando foi buscar os filhos na escola e foi encontrado em casa, agindo com naturalidade.

Bem desenvolto com as palavras e raciocínio, Iraci ainda contou que trabalhava como autônomo em serviços gerais, que era de confiança onde passava e que sempre mantinha trabalhos agendados para os próximos 20 dias. Que vem de uma família de sete irmão, que os mais velhos e os pais não sabem ler nem escrever e que ele e sua irmã mais nova são os únicos da família que lêem e escrevem, tendo ele, estudado até a 7ª série.

Alerta – O delegado alerta às mulheres que tenham algum desconforto dessa natureza, em seus no relacionamentos, que não esperem acontecer o pior. Que peçam ajuda e que procurem evitar algo tão lamentável. “Infelizmente em proporção ao tamanho da região e população, o índice de violência contra a mulher é elevadíssimo. Não há classe social que predomine. Muitas vezes nas classes mais altas, se esconde mais ainda, por vergonha de expor. É preciso denunciar”, disse Fabiano, ressaltando que é um triste desfecho para o mês da Mulher, na região.

 

 

 

 

 

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