Consumidor: alvo indireto dos Agrotóxicos

 

*Gilvani Scatolin Leite é Engenheiro Agrônomo pela Unesp, Mestrando em Agroecologia pela UFFS – Laranjeiras do Sul e colunista de Comcafé sobre Agroecologia e assuntos relacionados ao meio ambiente, sustentabilidade e sociedade.

 

Os Agrotóxicos, nome dado às substâncias de uso agrícola cuja triste finalidade é a de manter a lavoura sadia e produzindo livre das espécies que competem pelos nutrientes adicionados ao solo, os adubos químicos (NPK), pela água e pela luz solar, matando os insetos, as plantas, as aves, os roedores, as chamadas “pragas agrícolas”, a fim de obter a maior produtividade, sejam de quaisquer lavouras.

Os inseticidas, acaricidas, herbicidas, fungicidas e assim por diante são fabricados pelas grandes indústrias multinacionais e são distribuídos aos produtores rurais através de um programa do governo Federal de incentivo ao crédito rural o qual se verifica a adoção de um pacote tecnológico contendo, além dos Agrotóxicos, os Adubos Químicos, as sementes Geneticamente Modificadas (Transgênicos) as máquinas agrícolas e os sistemas de irrigação, que permitem a sistematização da área de cultivo fazendo com que a plantação seja totalmente padrão tanto em altura quanto em produtividade. Isto para facilitar os tratos culturais através dos maquinários agrícolas: as plantadoras e colhetadoras as distribuidoras de calcário. Tecnologias, estas, utilizadas para expandir a produção de commodities agrícolas.

Entretanto, se essa lógica fosse usada apenas para os grandes produtores rurais de commodities, ainda sim seria de tamanha agressão ao meio ambiente e a vida que por si só é questionável. Mas, ela abrange, também, os pequenos e micro produtores de comida como arroz, feijão, hortaliças, frutos, raízes e tubérculos que os vendem para um atravessador e este vende para a população, o consumidor final.

Pode se dizer que a grande maioria dos alimentos existentes nas gôndolas dos mercados foi produzida com o uso de algum tipo de agrotóxico, com algum tipo de adubo químico e com alguma tecnologia genética, seja hibridação, transgenia ou exposição a raios gama. Logo, levanta-se a seguinte indagação: Se os alimentos são cultivados sob o uso de Agrotóxicos, às vezes mais que um tipo de molécula, será que os alimentos no mercado também não estão contaminados? Será que as pessoas que trabalham na lavoura também não estão contaminadas? Será que a água que se bebe, o solo que se cultiva e o ar que se respira, também não estejam contaminados? Será que nós não estamos contaminados?

Segundo o trabalho desenvolvido por Larissa Bombardi e colaboradores doutorandos da Universidade de São Paulo cujo título é “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia” (2017), o Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos sendo o Centro Oeste o maior consumidor com 334.628 Toneladas, seguida da região Sul, Sudeste, Nordeste e Norte com, respectivamente, 224.911, 188.512, 101.460 e 28.271, toneladas, totalizando 877.782 mil toneladas despejadas no território brasileiro. Em consequência, o que se espera é que tanto a água, como o solo, o ar e a vida estejam contaminadas.

Levando em consideração o mesmo estudo, porém sobre a comparação das diretrizes brasileiras sobre o LMR – Limite Máximo de Resíduos de Agrotóxicos permitidos na água com as diretrizes permitidas na água da União Europeia, – que é desenvolvedora e fabricante de parte destas tecnologias químicas – pode se suspeitar que haja resíduos de agrotóxicos na água de algumas regiões do país, pois se no Brasil o Limite Máximo de Resíduo permitido na água varia de 20 a 5000 vezes de acordo com o tipo de Agrotóxico analisado em relação à União Europeia, e que o país é o maior consumidor desta substância… Como não haver resíduos delas nas águas?

A seguir uma tabela contendo o nome do Agrotóxico e seu Limite Máximo de Resíduos na União Europeia em comparação com o LMR no Brasil:

Mas não é só na água que os Agrotóxicos estão, segundo dados da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2018), das 1.397 amostras de alimentos coletados e analisados no ano de 2018, obteve-se que 25% dos alimentos continham LMR acima do permitido e 75% das amostras foram consideradas satisfatórias. Entretanto, dos 75% restante da amostra, 42% continham resíduos de algum tipo de Agrotóxico e 33% sem nenhum resíduo, ou seja, cerca de 70% das amostras estavam contaminadas com algum tipo de agrotóxico. Uma fragilidade de fiscalização, uma fragilidade legal.

Esta fragilidade legal permite que, talvez, se beba água contaminada, permite o uso intensivo e excessivo de Agrotóxicos perto de rios, riachos, lagoas e assim por diante, pois tolera valores altos de “limite seguro” para o consumo de algumas substâncias na água, além de ser incapaz de impedir que alimentos contaminados por Agrotóxicos cheguem à mesa do consumidor. E embora seja sabido que estas substâncias químicas causam uma série de desequilíbrios fisiológicos em humanos e não humanos, ainda sim o seu uso é permitido e, não só, como também há uma tolerância, duvidosa, mas que é considerada segura ao consumo indireto destas substâncias. Mas será que este limite de consumo de Agrotóxico é seguro, mesmo?

Levando em consideração que o produto químico conhecido como Agrotóxico foi criado para matar, é de se supor que não há quantidade mínima segura de ingestão dos tais. Mas, de acordo com a bancada congressista que apoia a importação, a venda e o uso destas substâncias não é possível produzir sem o uso de venenos, tem que manter as altas produtividades custe o que custar, pois é a atividade que tem maior participação no PIB, além disso, há um interesse financeiro dos grandes investidores bancários, industriários e grandes fazendeiros: se não jogar veneno não produz.

Entretanto, geram também danos ao Meio Ambiente, danos à saúde coletiva, sustenta o desequilíbrio social que favorece o processo de intensificação da distância entre os mais ricos e mais pobres elegendo, escancaradamente, a parcela da população que sofrerá os efeitos colaterais dos devaneios capitalistas, a população marginal a qual se resume ao todo o restante da população que não possui os meios de produção, aquelas que têm que trabalhar para os meios de produção em troca de um salário e ainda comer e beber com o possível risco de estar sendo contaminado.

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