Instituições públicas com demandas por necessidades primária da pessoa com deficiência, inclusive para ter acesso a benefício social, assim como à justiça, se tornam excludentes por não contarem com guias rebaixadas nas calçadas e até internamente.

Rodrigo é cego. Ele é testemunho da dificuldade que é andar nas Ruas de Laranjeiras.
Rodrigo é cego. Ele é testemunho da dificuldade que é andar nas ruas de Laranjeiras.

É com a ajuda de alguma “boa alma”, que esteja disposta a fazer uma “boa ação”, que Rodrigo Almeida Teixeira, 33, cego desde o nascimento, se orienta, quando perde a direção nas ruas de Laranjeiras do Sul, ao desviar as tampas de boeiros em cima das calçadas, em plenas esquinas. Ele também precisa de ajuda para sair da calçada e atravessar as ruas, uma vez que raramente tem a facilidade de tatear com a bengala e encontrar guias rebaixadas. Há dias, em que não surge ninguém como a gentileza do terapeuta Liezer Menezes. E então, Rodrigo, que trabalha vendendo barras de chocolate, que a mãe produz, para complementar sua renda, volta mais cedo para casa.

Outra que tenta desafiar a exclusão histórica do público deficiente na cidade, e sair às ruas, é Juliana Geteski, 28. Ela teve Paralisia Cerebral, no primeiro ano de infância, atingindo sua parte física e motora, tornando-a dependente de cadeira de rodas para se locomover. Como é aluna do 3º ano em Pedagogia, na Unicentro, onde não há acessibilidade externa, precisa ser carregada nos braços, pelo motorista da

A universitária Juliana, precisa que a carreguem para poder adentrar à Unicentro-Laranjeiras, cujo projeto não previu acessibilidade externa.
A universitária Juliana, precisa que a carreguem para poder adentrar à Unicentro-Laranjeiras, por falta de acessibilidade externa.

van que a leva, do estacionamento até o saguão. “Andar nas ruas de Laranjeiras do Sul, para uma pessoa como eu, já é humilhante, pois mesmo onde supostamente há a guia rebaixada, a cadeira não passa, devido à inadequação dos acessos. Agora imagine, vir para a faculdade e ter que ser carregada todos os dias, por não haver acesso?”, lamenta a jovem, adiantando que quer lutar para que ao menos na instituição onde estudará até 2018, possa deixar uma marca positiva, ao pedir encarecidamente, que o poder público se sensibilize com os deficientes. “Eu fui educada para não me revoltar, para aceitar a minha condição. Agora, ver o poder público se omitindo a esse ponto, é difícil”, completa Juliana.

De acordo com os coordenadores de curso e pedagógico da Unicentro, professores Marcos e Márcio, a instituição está articulando com a prefeitura, uma correção no projeto original, dando acesso aos portadores de deficiência. “Temos carência no aspecto físico e também no que diz respeito ao desempenho do aprendizado, pois faltam professores tutores, que auxiliem especificamente na Educação Especial, em sala de aula, o que também não está sendo ofertado até o momento.

Falta de acessibilidade no CRAS Frorisbela Alves de Moura.
Falta de acessibilidade no CRAS Frorisbela Alves de Moura.

Procurado pela reportagem para falar sobre acessibilidade e o que a atual gestão pensa em fazer para amenizar esse problema, o engenheiro Civil da prefeitura, Lucas Cadori, disse que não há o que ser feito. E que as novas obras de calçamento e pavimentação, feitos pelo poder público, preveem acessibilidade: “Acontece que a maioria dos calçamentos foram feitos pelos proprietários de terrenos particulares. E os mais antigos não se preocuparam com isso. Hoje, é exigido que toda a obra de caçada seja compatível com a acessibilidade, mas aquilo que já está feito, infelizmente, não há o que fazer”, argumenta.

Acessibilidade: interna sim, externa não – Mesmo os locais construídos recentemente, a exemplo do Fórum da cidade, do CRAS Florisbela Alves de Moura e do Parque Aquático – com acessibilidade interna, mas impossível de ser utilizado por alguém utilizando cadeira, pois as caçadas são incompatíveis e sem guias rebaixadas

Falta de acessibilidade ao Fórum da cidade.
Falta de acessibilidade ao Fórum da cidade.

nos acessos principais dessas instituições. Outros exemplos são a recém reformada unidade da Caixa Econômica Federal, no município, o INSS e a Junta do Trabalho de Laranjeiras do Sul. Esta última, inacreditavelmente, sem nenhum acesso. Na Praça do Cristo, também não há guia rebaixada nos principais acessos, assim como na Biblioteca Cidadã, que embora se esboce um acesso para  cadeirante, está hoje com transito impedido, devido às fortes chuvas que caíram ainda em julho. Também a porta principal não é adaptada causando transtorno para alguém que, após superar a barreira de acesso ao lago, chegasse até lá.

Falta acessibilidade no Parque Aquático, principal passeio público da cidade.
Falta acessibilidade no Parque Aquático, principal passeio público da cidade.

Para Roseli Viola Rodrigues – Mestre em educação e professora do Departamento de Pedagogia da Unicentro, a luta pela inclusão não pode se restringir aos profissionais que trabalham nessa modalidade educacional, não somente as autoridades e familiares, ela deve ser de toda a sociedade. “A inclusão escolar e social traz como desafio não apenas discutir as políticas públicas, mas, sobretudo, a necessidade de se adaptar os espaços e as práticas educativas, no sentido de oportunizar o ingresso, a permanência e o sucesso nas instituições de ensino em todos os níveis, garantindo mudanças de caráter social, moral, ético e pedagógico, bem como exigindo a responsabilidade da sociedade.”, sintetiza Roseli.

 

 

 

 

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.