Ilegal e comprovadamente prejudicial à saúde, capina a base de veneno é praticada até em escolas, e em horário de aula

Os fatos não são isolados nem demérito deste ou aquele setor, público ou privado. Há uma grita geral de desconhecimento, e as capinas químicas, embora proibidas, são realizadas de forma banal e sem causar espanto na maioria dos  respirantes passivos de venenos comprovadamente cancerígenos no país campeão e recordista mundial do uso do famoso 2,4 D, desde 2008.

Homem realizando capinagem química no pátio e calçada do Col. Estadual Laranjeiras do Sul, no sábado, dia 24 de fevereiro, pela manhã.

Após constatação de capinagem química no Colégio Estadual Laranjeiras do sul, localizado no Centro da cidade e de frente para um hospital, no último sábado (24), a reportagem de Comcafé procurou saber do Núcleo Regional de Educação  (NRE) qual é a orientação e apoio dado às escolas, referente à limpeza do perímetro escolar, para que a prática ilegal e inconsequente seja cessada e tratada de forma aberta e conscientizadora de toda a comunidade escolar. A preocupação foi levada ainda ao departamento de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal, uma vez que a referida infração ocorreu no meio urbano e também foi constatado o uso de veneno por parte de uma empresa contratada pela prefeitura, nas calçadas do Centro de Educação Infantil (Cemei) Nossa Senhora das Graças, na manhã desta quinta-feira (01), com as crianças em sala.

Homem realizando capinagem química na calçada do Cemei Nossa Senhora das Graças, na manhã de quinta-feira, 01 de março, enquanto a escola cumpria seu turno com os alunos.

O chefe do NRE, Lídio dos Santos, encaminhou o caso ao departamento de Meio Ambiente do Núcleo, a cargo da servidora Maristela Osciany, que é responsável pelo Meio Ambiente, Programa Agrinho – desenvolvido pelo Sistema S, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação, e Educação do Campo. Maristela falou sobre a conferência infanto juvenil de Meio Ambiente, que deve ser realizada nas escolas estaduais de Laranjeiras do Sul, até dia 16 de Março, como uma oportunidade para se debater o tema, mas não quis se pronunciar sobre o uso de veneno nos espaços escolares.

Já a diretora de Meio Ambiente do Município e Engenheira Agrônoma Marli Dalmolin, ressaltou que a pratica de capina química é proibida e que ao menos nos caso em que for aplicado o produto que é autorizado como o “Kapina Química”, cuja fórmula não contém 2,4 D, que seja feito em período de recesso escolar. “Acabamos  de ter 60 dias de recesso. vamos considerar que em alguns espaços com calçada, onde a limpeza é muito difícil, o tipo de produto autorizado fosse passado. Mesmo assim, teria que se respeitar a carência da evaporação de resíduos e não poderia ser feito sem autorização de um técnico responsável”, observa Marli.

Sobre o fato ocorrido no Centro de Educação Infantil (Cemei) Nossa Senhora das Graças, o secretário de Urbanismo Leoni Luiz Meletti, informou na mesma data da ocorrência, que notificou as três empresas que prestam serviços de limpeza para a prefeitura, sobre a infração da lei, inclusive observada em contrato, ao fazerem uso de herbicida. “Acabo de notificar as três empresas para não fazerem uso disso, apesar de que o contrato deles com a prefeitura já proíbe”, respondeu o secretário.

A secretária de Educação e Cultura, Maria Luiza Simões Nunes dos Santos disse que vai solicitar às empresas contratadas que não usem mais veneno para as limpeza nas escolas. “Eles devem ter usado só na calçada, porque dentro da escola a direção não presenciou o fato. Mas mesmo assim, pediremos que não seja feito o uso de veneno”, comentou a secretária.

A banalidade da prática

A começar pelo descaso com a legislação de responsabilidade da Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária , cuja fiscalização direta é inexistente ou insuficiente, tanto que as práticas são escancaradas e os recorrentes a crime ambiental contam com a compreensão da população que culturalmente se vê sem ação diante do monstro invisível, sempre travestido de necessário.

Os argumentos para a infração da lei, são sempre os mesmos, conforme apontados pela direção do referido Colégio Estadual Laranjeiras. “Pagar uma pessoa para fazer a manutenção permanente em áreas grandes é muito caro” ou “quando a comunidade é convocada para ajudar a fazer a limpeza, ninguém aparece”, todos verdadeiros e quase convincentes, não fosse o fato de que a pessoa que aplica o veneno é a primeira a se contaminar, seguida das muitas, que sequer sabem o que está presente no ar que estão inalando.

As consequências são fartamente documentadas como alteração genética no meio ambiente e no organismo humano, capaz de desencadear o câncer, alterações do sistema hormonal, malformação fetal e toxicidade neurológica. Mas parece que não são capazes de sensibilizar sobre a capacidade de contaminação por 2,4-D, nomenclatura simplificada do ácido 2,4-diclorofenoxiacético, princípio ativo de um dos herbicidas mais comuns e antigos do mundo (utilizado sempre junto a Roundup ou Glifosato),  para controlar plantas daninhas, há pelo menos 60 anos, e uma das moléculas com maior quantidade de estudos de todos os tempos, pelo índices elevados de doenças que são registradas nos ambientes em que são utilizados.

A venda indiscriminada do veneno

Embora a exigência da legislação seja de que a venda de herbicida só ocorra com receita “hoje se você chegar em qualquer casa agropecuária, exceto uma que eu sei que não quis vender, e disser que quer um veneno para matar um mato, pode dizer que é na cidade, eles te vendem um combo de diversos venenos que são misturados e potencializados, sem sequer te orientar quanto ao uso do equipamento de proteção”, ressaltou a diretora municipal de Meio Ambiente, Marli Dalmolin, complementada pelo secretário de urbanismo, que chama a atenção para a venda sem compromisso, quando os comerciantes de produtos como o 2,4 D, deveriam fazer inclusive o recolhimento (processo inverso) das embalagens.

Veja dados de instituições renomadas, como o Instituto Nacional do Câncer que confirmam a associação da doença ao contato com o veneno: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/cancer/site/prevencao-fatores-de-risco/alimentacao/agrotoxicos

https://www.vix.com/pt/bdm/saude/agrotoxicos-nos-alimentos-causam-cancer-e-infertilidade-7-dicas-para-reduzir-riscos

A origem dos herbicidas, desde o Agente Laranja, utilizado pelo exército americano na Guerra do Vietnã: https://www.infoescola.com/produtos-quimicos/agente-laranja/

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