O que faço agora, com as anotações em meu caderno de campo, como candidata a vereadora não eleita?

Comunico meu retorno como jornalista, aqui, no Comcafé, e peço licença aos leitores para narrar em primeira pessoa, um resumo de minha experiência como candidata a vereadora, assim como para emitir minha opinião, acerca do que vivenciei durante o pleito eleitoral, em Laranjeiras do Sul.

Quero começar justificando minha ausência e não atuação neste site, nos últimos dois meses, em função de estar participando do pleito eleitoral.  Cumprimento a todos e agradeço aos 67 eleitores que puderam compreender minha mensagem sobre os temas que abordei em minha campanha. Pois meu objetivo principal, foi pela oportunidade de colocá-los em debate, bem como sentir o interesse dos laranjeirenses, de serem representados nessas áreas. E nesse sentido, apesar das interferências inerentes ao modelo atual de política eleitoral, minha avaliação é de que o trabalho só começou.

No campo da cultura, vi brilharem os olhos de muitas crianças e adolescentes, que agora em casa, em função da pandemia, ouviam minhas propostas junto com seus responsáveis. Eu tive a certeza de que eles/elas adorariam ter a oportunidade de assistirem a um espetáculo de dança, de teatro, de música, de literatura. E no finalzinho, participarem de uma oficina com os artistas da vez, se experimentando naquela arte que acabaram de ver apresentada, ali na sua comunidade, no palco móvel do projeto do ônibus cultural nos bairros.

No campo das razões do feminismo, ouvi muitas mulheres vítimas da desigualdade social:  da violência doméstica; do abandono dos parceiros na responsabilidade com os filhos; da dificuldade para deixar as crianças para trabalharem como diaristas em lares ricos, enquanto os filhos delas ficam em lares tão desprovidos de condições mínimas de bem estar; da dor de terem os filhos presos; da dificuldade de certos serviços públicos, pois relatam aguardar por até 8 meses por um exame ou por uma consulta médica especializada para si ou para um dos filhos, sem condições de pagarem particular, como muitos cidadãos e cidadãs laranjeirenses têm feito; da falta de oportunidade para que seus filhos e netos, encontrem trabalho para que elas possam tirar dos ombros, tamanha responsabilidade com tudo.

No campo da agroecologia, foram poucas, mas encontrei algumas pessoas conscientes, fazendo de alguma forma, o contraponto ao sistema massacrante, plantando alimentos em seus quintais (aqueles que têm algum espaço), não desperdiçando matéria orgânica, tendo responsabilidade com relação à produção de lixos poluentes, compreendendo o direito a terem saneamento básico e deixarem de poluir, mesmo que involuntariamente, os rios e ecossistema, assim como interessados na melhoria para a coletividade. Ou seja, agindo em prol de alguma autonomia, de alguma sustentabilidade, mesmo que pontualmente. No entanto, para a maioria, ainda é preciso falar pedagogicamente sobre os impactos ambientais, explicando sobre que é o nosso meio ambiente e sobre a relação que devemos ter com ele, mesmo que individual, fazendo a diferença para todos.

Por fim, no campo do acesso ao ensino superior, cuja abertura para sentir o interesse, foi falando sobre minha proposta do cursinho pré-vestibular gratuito, obtive dois tipos de reação. Um deles, de interesse, quando falava para aqueles com melhores condições de vida. Estes, reagiam afirmativamente, manifestando que poderia ser um benefício para si ou para seus filhos. Outro tipo de reação, foi o de desesperança em chegar a ocupar uma vaga em alguma universidade. Nesses casos, ao perguntar o porquê, cheguei a ouvir depoimentos que vêm de encontro, tanto a necessidade de promover o acesso à cultura, como à universidade, assim como do desenvolvimento do modelo agroecológico em todas as frentes. O depoimento que mais me chocou, foi o seguinte:

“Eu moro nesse diabo de lugar que cheira mal (referindo-se às inúmeras fossas sépticas nos bairros), preciso trabalhar de cortador de pinus e de erva-mate para poder comer, e a senhora vem me falar em universidade, dona. Eu só quero poder comer, e para esquecer essa merda de vida, beber e tal…. meus amigos, uns estão estão no educandário, outros no cemitério. Então, não tem nada pra mim, não adianta eu querer”, disse-me um jovem de 22 anos. Diante disto, depois dele mencionar o cheiro mal, eu quis saber o por que, e me voltei para a realidade da falta de saneamento básico em mais da metade de Laranjeiras do Sul, e então, encampei o discurso sobre a necessidade emergente de tal serviço público, que espero que logo aconteça. Infelizmente, sabemos que o depoimento forte, do referido jovem, revela o sentimento de centenas deles, que vivem nas periferias de nossa cidade, sem esperança de ocupar seu lugar de direito, que é numa universidade.

Diante de tais realidades, caríssimos leitores, me sinto ainda mais responsável em dar voz àqueles que carecem dela, e que diante de uma necessidade imediata, infelizmente,  ainda são cerceados do voto livre. Digo isto, porque alguns votos (Tribunal Regional e Superior Eleitoral) me foram ofertados em troca de gasolina, de materiais de construção, de dinheiro, de bebidas, de passagens para os familiares virem votar, de cestas básicas, de caçamba de terra, de pagamento da conta da  luz ou da água. Triste realidade constatada, denotando o vicio do eleitor em pedir algo em troca do voto, tirando dele a liberdade de escolha baseado em propostas e competência dos candidatos, quando, diferente de mim e certamente de muitos colegas candidatos, podem encontrar outros que ao invés de conscientizá-los, podem se aproveitar da condição de fragilidade destas pessoas. Como fiscalizar isto, TSE, TRE e Ministério Público? Quando chegaremos a um processo eleitoral realmente transparente? Talvez eu já não esteja aqui. Mas enquanto estiver, quero dar minha contribuição,  nesse sentido.

Muitos outros aspectos dos bastidores da eleição municipal 2020, rendem textos que pretendo compartilhar aqui. Inclusive da importância de benfeitorias realizadas pela gestão pública, e que justificam a preferencia massiva do eleitorado pela Coligação Laranjeiras Cada Vez Mais Forte, em todos os bairros. Como a bela praça com parquinho e academia ao ar livre no Monte Castelo. A importância da descentralização e manutenção do funcionamento de postos de saúde em localidades mais afastadas. O asfalto e iluminação em quase todos os bairros da cidade. As estradas em boas condições em quase todas as comunidades do interior. O atendimento na Assistência Social. A regularização de terrenos, incluindo a compra pelo município, de áreas para habitação.

É fato, que com relação ao prefeito, os eleitores apostam na continuidade daquilo que está dando certo, ao mesmo tempo em que esperam mais melhorias. A expectativa manifestada agora, é pela geração de empregos e mais oportunidade de formação em nível técnico, para poderem ocupar essas futuras vagas de emprego. Pois é a partir do suprimento de necessidades básicas, como garantia da alimentação, habitação, saúde e escola, que o interesse por mais direitos, passa a ser despertado.

Desejo com este breve relato, observações e apreensões da realidade, contribuir para que os gestores municipais, bem como os vereadores eleitos e reeleitos e demais entes públicos, caso leiam esta publicação, reflitam sobre o porque, dos porquês. Muito obrigada!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3 comentários sobre “O que faço agora, com as anotações em meu caderno de campo, como candidata a vereadora não eleita?

  1. Adorei sua volta a mídia com esta matéria, não poderia ter escolhido tema melhor. Com certeza vamos querer acompanhar seus relatos sobre a experiência que teve enquanto candidata. Tenho certeza que essas experiências também foram de crescimento pessoal, embora já conheça sua luta e admire.
    Seu texto é com certeza muito reflexivo, e se não servir aos gestores, com certeza serve a todos nós.
    Você não é a primeira a ouvir o pedido de algo em troca de votos, me lembro de outra candidata de Laranjeiras, quando as mulheres ainda não eram comuns no pleito, se desgostar quando tentou um debate em um local com jovens e eles só queriam saber da cerveja. Ela, extremamente culta e batalhadora, ficou indignada, acabou por perder os possíveis votos dando uma lição de moral, seria cômico se não fosse real/trágico.
    Tenho certeza que teremos muito a aprender com as suas próximas matérias. Parabéns pela sua trajetória, pelas frentes de atuação, pela coragem.
    Espero que este texto não fique somente em seu município, pois a realidade de grande parte dos municípios de nosso país é a mesma, as necessidades são as mesmas.
    Abraços,
    Selma

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