Pensar na morte é refletir sobre a vida?

elcio2Elcio de Bona – Professor de Filosofia e atualmente diretor no Colégio Estadual Gildo Aluísio Schuck – é colunista quinzenal do Portal Comcafé, discorrendo sobre Educação e outros temas da atualidade.

Essa interrogação inquietante cabe-nos a recorrer a celebre frase do filosofo da antiga Grécia, Sócrates, (469 A.C.-399 A.C.): “A vida não examinada não vale apenas ser vivida”. Será que nós, seres humanos, nos dias atuais, cedemos o espaço para esta realidade? Analisemos: Quem é o homem? Quem somos nós? O que estamos fazendo aqui? Por que almejo um cargo político? Qual é o poder que tenho sobre a vida?

Sêneca (filosofo romano) alerta em seu pensamento: “a cada dia vivido um dia a menos para viver”. O criador disse: “façamos o homem á nossa imagem e semelhança. Domine-o os peixes do mar, as aves do céu, o grande e os pequenos animais que andam e rastejam sobre a terra” (Gênesis 1:26). Contudo o homem reverteu essa determinação de Deus e usa do poder para beneficiar-se e manipular o próximo e a natureza, e ingenuamente, pensa-se eterno sobre a terra esquecendo-se que morrerá, não cedendo espaço para refletir sobre a sua finitude.Nessa triste situação acaba minimizando sua vida com atitudes de preconceito arrogância, ganância, imposição de um poder sobre o outro que ele não possui, esquecendo-se de sua mortalidade.

Os guerreiros romanos possuíam um hábito: quando um general voltava vitorioso dos campos de batalha, deixava seu exercito do lado de fora da cidade, num campo  aberto chamado Campo de Marte  (espaço consagrado ao Deus da guerra). O general adentrava a cidade  em uma biga, rumo ao senado, enquanto era aclamado pelo povo. Ao lado da biga corria um escravo, com obrigação legal, de que a cada quinhentas jardas subisse na biga e sussurrasse no ouvido do general a seguinte frase: “lembra-te que és mortal”.

Já imaginaram? Tem gente, em nossos dias, que precisaria de alguém com cargo e função que, ao menos, uma vez por semana, grudasse nele e dissesse: “lembra-te que és mortal”.

Isso serve para todos nós, seres humanos, que muitas vezes, nos orgulhamos do nosso poder sobre a natureza, sobre as pessoas, sobre o cargo que exercemos e sobre o que possuímos materialmente, sentindo-nos eternos e poderosos sobre nossa vida, esquecendo-nos que a nós ela não pertence e que  sem hora marcada podemos ir, e  então toda nossa postura de poder e covardia  ficará para traz. Tenho refletido sobre meus 41 aninhos atualmente, quanto viverei ainda! Acredito que a metade já se foi. E você? A quem prestaremos contas, imagino que no final, a consciência será julgadora, e dai o desespero surge ou não, dependendo da autenticidade  que cada um levou a vida. Que legado deixarei para as novas gerações.

Parafraseando o filosofo Mario Sergio Cortella, digo: a todos que almejarem poder por poder, esquecendo que deveriam estar em prol do bem comum: “não te esqueças… nós vamos morrer”. Caros leitores, pensar na morte é pensar na vida.

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