Houve resistência no início, quando os alunos diziam que não tinham nada para vender. Mas, após motivação por parte dos professores e com muito trabalho lúdico, se convenceram de que mesmo quem não nasceu em meio às oportunidades, pode buscar ascensão por meio de alternativas que devem ser asseguradas e apresentadas pelo poder público.

Um misto de festividades com a sensação de importância por estarem representando os produtos que eles mesmos desenvolveram e colocaram no mercado, para aquela comunidade, tomou conta de alunos do 1º ao 5º ano, do Centro de Atenção Integral a Criança e ao Adolescente (CAIC), Irmã Dulce, que fica no Bairro São Francisco, em Laranjeiras do Sul, nesta quinta-feira (15).

O projeto é da Secretaria da Educação do município, que sugere sua aplicação em todas as escolas, visa desenvolver autonomia, liderança, cooperação, integração, criatividade, espírito empreendedor, pesquisa de mercado e de pessoas,  para que vão em busca do sonho, valorizando e identificando talentos, assim como respeito ao consumidor. Com isso, aprendem que os primeiros beneficiados são eles mesmos, enquanto empreendedores, pois transmitem credibilidade aos clientes, que fidelizam preferência. Dessa forma, mudam a mentalidade de que os mais pobres poderiam ser apenas mão de obra, submetendo-se ao que o mercado estabelece.

Paralelo à conscientização crítica, e para se chegar a esse entendimento, houve um período em que produziram algo vedável, variando de acordo com as faixas etárias, que foi desde brinquedos confeccionados a partir de materiais recicláveis, a exemplo dos aviões de garrafa pet, carrinhos com caixa de leite longa vida e jogos da velha de mais de um tipo, utilizando tampas de garrafas pet e papelão. Já outro grupo contou com a ajuda dos pais para produzir mudas de plantas medicinais e cuidar, para que fossem vendidas durante a apresentação do projeto.

De acordo com a professora e diretora do colégio, Gracieli Cristiane Castilho, no início do projeto, os alunos apresentaram resistência. Quando perguntados sobre o por que, respondiam que não tinham nada para vender. “Isto, principalmente pela realidade socioeconômica dos nossos alunos que são oriundos de bairros carentes e vulneráveis. Mas assim que trabalhamos alguns exemplos, eles foram compreendendo e se interessando de maneira surpreendente”, relata a diretora.

Acompanhada da mãe, Luzia Aparecida de Oliveira, a aluna do 1º ano, Denise Oliveira dos Santos, de seis anos, participava da exposição de mudas de plantas medicinais, que ela e os colegas produziram com a ajuda dos pais. “Fiz uma muda de erva doce”, conta a menina, ao dizer que aprendeu muitas coisas com a experiência. Desde que as plantas sentem sede e precisam de bastante água, até que elas comem pela raiz. A mãe Denise, disse que todos os dias ela chega contando alguma novidade da escola. “Mas quando foi sobre o projeto, estava muito empolgada e percebi que ela aprendeu muitas coisas durante o preparo da mudinha que troce para vender”, afirma Luzia.

Os colegas, Maicon Luan Alves Delfino (8), Vinicius Fagundes (8) e Thiago Rodrigues (9), todos da 3ª série, estavam comemorando o sucesso. Os brinquedos criativos que inventaram, aviões, carrinhos e jogos da velha, tiveram grande saída. “Acho que ter aprendido a reciclar foi o mais importante”, comenta Thiago. “Meu pai tem um bar. Então pedi para ele me ensinar a vender”, conta Maicon.

Outra equipe de alunos da 5ª série, fez brigadeiros para vender e também comercializou cadernos de receitas e potinhos para guardar doces. “O que mais gostei foi ter aprendido a trabalhar em equipe”, declara Raiane Nunes de Paula, de 11 anos.

Todos os itens foram comercializados ao valor simbólico de R$ 0,50. A Banda Municipal, que é formada por alunos das escolas municipais e estaduais, com idade entre 8 e 18 anos, se apresentou durante a tarde de comercialização dos produtos desenvolvidos pelo projeto, tornado ainda mais importante a participação dos pais e alunos, além de proporcionar a eles, acesso à cultura.

A escola tem 450 alunos nos dois turnos diários, e atualmente o projeto Mais Educação proporciona esporte, brinquedoteca e experiências com horta. De acordo com a direção, os alunos demonstram que sentem falta de atividades culturais, o que espera suprir com a aprovação de algum projeto do gênero, a partir do próximo ano.