Sobre a sua trajetória, que naturalmente não é comum entre as pessoas da sua origem, ele diz que mais pessoas não têm o mesmo desempenho por falta de oportunidade, começando pela base educacional.

Médico Alvino Camilo.
Médico Alvino Camilo.

Penúltimo dos 13 filhos de dona Jacira – que um ano após a morte do marido, tomou a decisão de aderir ao MST, acampando com os filhos por cinco anos, até que se tornou o Assentamento Jaboticabal, em Goioxim – o médico Alvino Camilo é exemplo de que, quando há oportunidade, o povo agarra com determinação.

Sempre orientado pela mãe, quando chegou a hora do ensino médio, entre 13 e 14 anos, Alvino foi morar em Cantagalo, onde podia estudar e trabalhar como servente de pedreiro numa cooperativa que o MST estava construindo.

Ele já havia concluído o ensino médio, conciliando estudo e trabalho, quando veio a oportunidade por meio do Movimento, de enviar dois jovens paranaenses para estudar medicina em Cuba, desde que cumprissem com todos os requisitos e provas preliminares.

Após passar pelo processo seletivo, incluindo três meses de treinamento em espanhol em São Paulo, o movimento pagou as passagens e ele foi para Cuba. Lá, com estudantes de mais 25 países, América Latina, África e Ásia, cumpriram mais uma etapa preparatória de seis meses, chamada de pré-médico, seguida de prova de ingresso na ELAM – Escola Latino Americana de Medicina. “Quem não passou, voltou para seus países”, lembra.

A faculdade Cubana de Medicina, que tem filial na Venezuela

A EL, considerada pela ONU, como uma das melhores faculdades de medicina do mundo, comporta cinco mil estudantes. Camilo conta que a base de formação dos estudantes dos países que vão para lá, é um grande desafio para acompanhar o ritmo do Curso. “Os professores são todos cubanos. A convivência com pessoas dos outros países, foi muito importante para que tivéssemos uma noção geral, principalmente sobre a América Latina, os grupos indígenas e movimentos sociais”, acrescenta.

O desafio para revalidar o diploma

Alvino passou 6,5 anos em Cuba, e quando voltou para o Brasil, em 2009, com diploma de médico em mãos, mais um grande desafio. Era preciso revalidá-lo. Para isso, os médicos formados no exterior passam por uma prova difícil que envolve domínio e conhecimento sobre o SUS – Sistema Único de Saúde, que só aprova cerca de 5% dos inscritos por ano. Ele debruçou-se a estudar e já em 2011, foi reconhecido como profissional médico também no Brasil.

Atuação profissional com foco no social

Em seguida, fez especialização em medicina da família e comunidade, em Fortaleza, onde atuou na periferia. Depois no Ceará, em assentamentos do MST. Em 2012 voltou para a região de Laranjeiras do Sul, onde seguiu trabalhando nos Assentamentos Xagu e Ireno Alves. Hoje, atende ainda como voluntário aos sábados no Acampamento Herdeiros da Terra, em Rio Bonito do Iguaçu. “O objetivo da ELAM é formar médicos para voltarem a trabalhar em suas comunidades de origem”, explica.

Atualmente, com 33 anos, o Dr. Alvino Camilo trabalha como médico plantonista nos hospitais de Laranjeiras do Sul e no Hospital Municipal em Quedas do Iguaçu. Como todo o profissional que se preze não para de estudar, ele começa mais um desafio. Participou de uma seleção para fazer o curso de preceptoria em Guarapuava, ofertado em Parceria, pelo Hospital Sírio-Libanês de São Paulo e Ministério da Saúde, como parte do Programa Mais Médicos, que  – ao ampliar a oferta de cursos de medicina em todo o país – também prepara médicos para receber e orientar os novos médicos que irão se formar, para atuarem na saúde pública dos municípios.

Trajetória e visão política

Sobre a sua trajetória, que naturalmente não é comum entre as pessoas da sua origem, ele diz que mais pessoas não têm o mesmo desempenho por falta de oportunidade, começando pela base educacional. “Na verdade, os camponeses costumam ser excluídos de tudo. Até mesmo os programas FIES, ENEM e cotas, até 2003, só as classes média e alta conseguiam entrar. Felizmente, isto vem mudando”, acrescenta, dando um exemplo. “Na saúde, estamos lutando para implementar a Política Nacional de Saúde Integral das populações do Campo e da Floresta. E mesmo Leis que parecem já estabelecidas, não atendem quem vive no campo. Se vc pensar que a mulher do campo, mesmo com a Lei Maria da Penha em pleno funcionamento, se for vítima de violência, não tem onde recorrer”.

Outra observação feita por Camilo, é com relação ao critério do Programa Mais Médicos para os países que participaram do envio de profissionais para cá. Segundo ele, exigiu-se que tivessem mais médicos per capita que o Brasil. “Por isso, automaticamente, Cuba é o primeiro colocado”, ressalta. A ONU recomenda 2,5 médicos a cada mil habitantes. Até a vinda do Mais Médicos, estados como o Maranhão contavam com 0,68 profissionais a cada mil, enquanto em capitais como Brasília havia 4,2 médicos para cada mil pessoas (IBGE 2013).

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