Há 7 anos, aproveitando o que seria descartado na Ceasa Curitiba, a comunidade Hare Krishna alimenta cerca de 300 pessoas por dia
Fotos: Gilvani Scatolin Leite

Uma cultura milenar que oriunda dos ensinamentos védicos da Índia antiga, vinda diretamente do mundo espirital, conforme consideram os monges Hare Krishna.

Todos os dias, sem perguntar a classe social, exigir atestado de carência ou identidade, os devotos do templo Hare Krishna de Curitiba, preparam e servem gratuitamente, cerca de 300 almoços para  pessoas que formam uma fila, entre as 12h e 13h, nas proximidades do templo, no Largo da Ordem. Além de alguns integrantes da população de rua, muitos estudantes e viajantes que sobrevivem da venda de artesanatos, são maioria dos que buscam pelo alimento lacto vegetariano no templo Hare Krishna que se encontra no mesmo local há 15 anos.

Depois de sete anos, servindo almoço diariamente àqueles que aguardam por um prato de comida, os devotos da comunidade Hare Krishna, já não encontram dificuldades para resgatar parte das toneladas diárias de alimentos (grãos, verduras e frutas) que antes, eram descartados pelos produtores que abastecem a Central de Abastecimento do Paraná (Ceasa-Curitiba), e que hoje, já separam para facilitar a entrega a eles. A parte de massas e complementos que não encontram na Ceasa, são comprados com a venda dos livros escritos e comercializados pelos devotos.

De acordo com o integrante e vice-presidente da organização, Maha Prabhu Dayasindhu Das, que vive no templo com a esposa Lila Kamalini Devi Dasi e a filha Gaura Priya Devi Dasi, o papel da comunidade Hare Krishna é possibilitar às pessoas em geral,  perceber que elas podem viver de forma independente, não sendo sujeitadas ao sistema material estabelecido.

“As pessoas podem viver em plena conexão com seu eu e Deus. Tudo é de Krishna. É ele quem provê tudo o que existe. Se uma planta cresce e dá frutos ou não, é simplesmente pelo arranjo dele. Então, alguém se considerar dono de alguma coisa, é a maior fonte de sofrimento”, diz Maha. Ele observa que o que fazem, em relação ao almoço que servem, é ir até a Ceasa e aproveitar as grandes quantidades de alimentos que seriam, jogadas fora, preparar, oferecer a krishna e distribuir às pessoas.

Como a questão de gênero é vista na cultura Hare Krishna

Maha Prabhu Dayasindhu Das, sua esposa Lila Kamalini Devi Dasi e a filha Gaura Priya Devi Dasi.

Perguntado sobre um aspecto observado pela reportagem, em que homens e mulheres sentam-se em espaços separados na hora do almoço, Maha reforça que a questão de gênero é um ponto tratado com muita atenção na cultura Hare Krishna. “Nós compreendemos que não somos esses corpos. Ou seja, nós não somos homens ou mulheres. Somos almas espirituais. Mas nesse momento nós somos influenciados pela nossa consciência de homens ou de mulheres. Ou seja, o impulso sexual existe. E ele é o impulso mais forte  e que nos prende neste mundo material. Então a cultura védica, que é a cultura da Índia antiga, nos instrui de modo a nos proteger desses impulsos, mantendo uma certa separação entre homens e mulheres”, comenta o monge. Ele explica que a comunidade é idealizada para que hajam espaços rurais e urbanos. Nas comunidades rurais, vivem as famílias com atividades regulares naquele meio e nos templos urbanos, vivem os monges celibatários, que mesmo sendo casados, praticam vida sexual estritamente para a finalidade de conceber filhos.

“A intenção do ato sexual é compartilhada na comunidade e quando o casal comunica o desejo de ter um filho, passam horas meditando para convidar a este mundo uma alma útil a todos os seres. Ou seja, não é um ato sexual qualquer”, observa Maha.

Sobre a questão de violência contra a mulher, Maha diz que na cultura védica, aprendem que cada gênero tem sua função. As mulheres são voltadas às atividades relacionadas aos filhos. É o  pepel de mãe, que só a mulher pode exercer e cuja importância é fundamental para a sociedade. Os homens tem a função de prover e proteger a esposa e os filhos. Não significa que são funções superiores ou inferiores. São funções apenas, diferentes. “Violência à mulher ou de qualquer gênero, implica em identificação material, propriedade. Muitas vezes por não ter as qualificações necessárias de um ser humano, neste momento muitos homens não cumprem suas funções e tão pouco cumprem um padrão de vida moral e espiritual. Assim acontecem essas violências, que são uma certa imposição de força e exploração da mulher”, lamenta Maha.

Resumidamente, a explicação em relação às diferentes funções entre os gêneros, é de que resultam numa certa compensação de solidariedade entre os pares, de modo que cada um se inspira mais a bem desempenhar seus papéis para que o companheiro e companheira possam também se sentir cada vez melhor e satisfeito na partilha da caminhada.

 

 

 

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