Patrono da educação Brasileira, 20 anos sem Paulo Freire

O colunista semanal de Comcafé, Alessandro Kominecki, é professor de Geografia, especialista em Educação do Campo e membro da APP-Sindicato núcleo de Laranjeiras do Sul. Atua como professor na rede estadual de ensino do Paraná.

Há  20 anos, no dia 2 de maio de 1997, Paulo Freire nos deixava para entrar, definitivamente, na História. Referência notável como um dos maiores educadores e pedagogos em todo o mundo, Paulo Freire, de forma absolutamente justa, tornou-se o patrono da educação brasileira. Pernambucano de Recife, nascido ainda no ano de 1921, Paulo Freire notabilizou-se por criar uma metodologia única na Pedagogia a partir da visão de que a educação deve ser, antes de tudo, um instrumento para a libertação e emancipação das pessoas e, em decorrência disso, um instrumento de mudança da sociedade. Frase célebre dele é a que dizia que não é a educação que muda o mundo: a educação muda às pessoas e são essas os verdadeiros agentes de mudança do mundo.

Criador da Pedagogia do Oprimido, o aspecto mais central de sua obra fazia menção e referência a uma educação crítica e, dizia ele, o processo educacional não deveria se ater a ser um mero reprodutor de conteúdo, mas, sobretudo, um instrumento de emancipação do educando, partindo sempre da realidade concreta da vida das pessoas. Sua obra se prestou a ser uma importante referência nas campanhas de alfabetização no Brasil na década de 1960 e, por isso, foi acusado de subversão pelo regime militar vigente à época no país. Como exilado, rodou o mundo inteiro e, lá fora, também foi reconhecido como um dos maiores pensadores no campo da educação.

Com vasta experiência tanto na academia quanto no campo da gestão pública, Paulo Freire nos deixa um legado que faz orgulho a todos nós brasileiros/as. A sua ascendência moral sobre a prática e o pensar pedagógicos faz da educação, até os dias de hoje, a melhor alternativa para se mudar o mundo, com mais justiça e igualdade sociais.

Ao rememorarmos essas duas décadas da morte de Paulo Freire, é impossível não repudiar proposições legislativas, como o Projeto de Lei da Escola Sem Partido que, desde as Câmaras Municipais até o Congresso Nacional, passando pelas Assembleias Legislativas dos Estados, são apresentadas em profusão, ofendendo aqueles ensinamentos deixados por Paulo Freire. Na

contramão de uma educação que se preste a emancipar o ser humano, projetos dessa estirpe pautam somente o cerceamento da liberdade e o fomento à escravidão das ideias e do analfabetismo político e funcional dos estudantes em particular e da sociedade em geral. A educação não pode se prestar a outra coisa se não for na direção da liberdade e da emancipação das pessoas de toda espécie de amarras e opressões.

Fonte: CNTE

Bibliografias de Paulo Freire -A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 1991. -A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez / Autores Associados, 1982. -À sombra desta mangueira. São Paulo: Olho D´Àgua, 1995. -Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. -Alfabetização e conscientização. Porto Alegre: Editora Emma, 1963.

-Aprendendo com a própria história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. -Cartas a Cristina. São Paulo: Paz e Terra, 1994. -Cartas a Guiné-Bissau. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. -Conscientização: teoria e prática da libertação. São Paulo: Moraes, 1980. -Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967. -Educação e atualidade brasileira. Recife: Universidade Federal do Recife, 1959. -Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. -Extensão ou Comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1971. -Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997 -Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. -Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora Unesp, 2000. -Pedagogia do Oprimido (manuscrito em português de 1968). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970. -Política e educação: ensaios. São Paulo, Cortez, 1993. -Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho D´Àgua, 1993.

-Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire. Disponível em PDF: http://www.servicioskoinonia.org/biblioteca/general/FreirePedagogiadelOprimido.pdf

Paulo Freire (1921-1997) propõe uma pedagogia para a libertação dos oprimidos, isto é, da maior parte da população do planeta. A educação é considerada como um processo dialógico de um lado a lado, visando quebrar o silêncio escravizado e recuperar a palavra negada.

De acordo com o educador Freire e a educação, através do diálogo franco, eles aprendem, ensinam e reinventam a história. Na nossa realidade atual, onde a mídia se apropriou de palavras e sentidos (também de nossos sonhos), a proposta de recuperar a voz para nomear o mundo permanece tão válida como sempre.

“Sería en verdad una actitud ingenua esperar que las clases dominantes desarrollasen una forma de educación que permitiese a las clases dominadas percibir las injusticias sociales en forma crítica”

Paulo Freire

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