Dhan Henrique observa que sua decisão pela exposição e não discrição sobre o caso, tem a finalidade de conscientizar a sociedade, pois muitos jovens se calam diante de indignações como a que sentiu, perdendo o encanto pela vida.

Um post no Facebook do jovem Dhanillo Henrique de Siqueira,21 ano, neste domingo (20), chamou a atenção de seus amigos de Laranjeiras do Sul, onde mora com a família e de outras cidades, onde já morou e mantém contatos, pelo relato de preconceito contra sua orientação sexual, da qual diz ter tomado conhecimento em uma reunião que teve com o Padre Claudio, da Igreja Ucraniana de Laranjeiras do Sul, há uma semana. Ele afirma ter ouvido do religioso num tom de solidariedade, que o esvaziamento do coral que vinha regendo a cerca de um ano, tenha sido pelo fato de Dhanillo Ser gay.

Ele diz que não culpa o padre, pois este até disse lamentar tal situação. Mas que resolveu publicar sua revolta, para que as pessoas reflitam sobre o tema. “O padre Claudio sempre apoiou a iniciativa do coral, tanto nos ensaios locais quanto para trazer meus amigos coralistas de Pato Branco para Laranjeiras. Apoiava além de moralmente, mostrando aos pais a importância da música, também custeando as viagem e cursos que realizei em prol do coral.  Acho que sobrou para ele me dar a notícia sobre a justificativa dos desistentes, o que ele disse lamentar. Ele me sugeriu discrição, mas não pude me conter pois a minha revolta não é contra ele nem à igreja, mas sim contra a cultura do preconceito que pode não ter me desestruturado, mas ainda faz muitas outras pessoas LGBTQI+, sofrerem e as vezes até desistirem da própria vida”, diz Dhan Henrique, nome artístico que utiliza tanto como coralista como ator do TULS – Teatro Unificado de Laranjeiras do Sul, do qual faz parte.

Dhanillo ressalta ainda que pretende perseguir a carreira artística e que isso lhe confere o dever  de não se calar diante de qualquer discriminação, seja consigo ou com outras pessoas. “Um artista tem o dever de encampar a luta por igualdade, não sendo correto se omitir diante de qualquer tipo de preconceito”, enfatiza.

O Padre Claudio, mencionado pelo artista em seu post, atendeu a reportagem de Comcafé, na tarde desta segunda-feira, por telefone, e disse estar tomando conhecimento da manifestação pública de Dhanillo, naquele momento. “Eu não quero me manifestar agora. Estou pedindo orientação do bispo e quando já tiver uma resposta, falo. Apenas adianto que não é justo com a igreja, qualquer direcionamento que seja feito à instituição”, destacou o padre, observando que estará em Laranjeiras nesta terça-feira e que vai procurar o jovem para conversar e esclarecer qualquer mal entendido.

Logo após a publicação do artista, o Conselho Municipal de Cultura de Laranjeiras do Sul (CMCLS), publicou nota de repúdio a “qualquer ato de preconceito e discriminação de qualquer natureza, assim como qualquer ação ou atitude que causem constrangimento, dor, sofrimento e segregação aos seus representados ou a qualquer pessoa.” Por meio da nota o CMCLS manifestou ainda, apoio ao artista e se colocou a disposição para providências.

Sobre o relato de Dhan, a Prof. Nádia Franco, coordenadora do Centro de Direitos Humanos da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), onde o artista estuda, ressalta que: “a discriminação de qualquer natureza é censurada pela nossa constituição federal no seu art. 5º. A não-discriminação juntamente com a dignidade da pessoa é um dos fundamentos da república”.

Como se sente a família diante do desconforto compartilhado

A mãe de Dhan Henrique, a Assistente Social Leocádia de Siqueira Levandovski, reforça que é preciso discernimento na leitura da crítica feita por seu filho, reforçando que a mesma não é direcionada à instituição religiosa, nem ao padre. “Tenho uma vivência cristã, juntamente com minha família e reforço: o que senti do meu filho é que sua revolta não está voltada para a instituição e sim para o preconceito, indiretamente manifestado. Na família, não nos incomodamos com a orientação sexual dele. Nossas preocupações são sempre relacionadas aos reflexos do  preconceito, o qual não tem outra utilidade, senão causar sofrimentos, danos e perdas”, manifesta.