COLETIVO REGIONAL DE MULHERES DA VIA CAMPESINA– ORGANIZAR E FORMAR PROCESSO DE EMPODERAMENTO DAS MULHERES CAMPONESAS NA REGIÃO​.

O colunista semanal de Comcafé, Alessandro Kominecki, que publica às segundas-feiras, é professor de Geografia, especialista em Educação do Campo e membro da APP-Sindicato núcleo de Laranjeiras do Sul. Atua como professor na rede estadual de ensino do Paraná. 

As mulheres camponesas sempre tiveram papel importante nos processos de organização e de luta dos movimentos sociais da região. Porém essa participação se deu sempre de forma invisível e com muita fragilidade, pois as organizações estão inseridas em um sistema capitalista, patriarcal e hierárquico com centralidade do poder masculino que fundamentam as relações nas instâncias das estruturas
representativas. É o reconhecimento deste desafio, mas também da necessidade de romper com a perspectiva de dominação e desigualdade, que as mulheres se desafiam a principiar uma luta por reconhecimento dentro dessas instâncias de representação. Diante da fragilidade e da demanda apresentada pelas mulheres surgiu á necessidade de se discutir a importância da organização do Coletivo Regional de Mulheres da Via Campesina, espaço em que as Sem Terra se juntam as pequenas agricultoras para construir processos de formação, discussão e pauta das especificidades femininas. A consolidação de uma organização permanente, com o objetivo de formar e preparar as companheiras para ocupar os diversos espaços se deu a partir da articulação do 8 de Março na região, que se constituiu na retomada da data como marco central de luta das camponesas.

Vale ressaltar aqui que organizar o Coletivo de Mulheres, requer tarefa dupla: a de se libertar do jugo de uma sociedade predominantemente patriarcal e machista, carregada de conceitos já estabelecidos que colocam o ser social – mulher – em uma posição de subalternidade, e a de construir uma nova identidade na perspectiva de libertação.

A partir do momento em que as mulheres se organizam e passam a ter consciência de si e de sua própria vida, tendo como consequência um processo de mudança do seu próprio comportamento, redefinem seu papel dentro da sociedade provocando uma mudança nas relações sociais vigentes. É necessário ressaltar que a base de formação social e política das mulheres camponesas e militantes se deu a partir de um trabalho realizado em parceria que o MST estabeleceu por meio do CEAGRO – Centro de Formação e Capacitação em Agroecologia e fundação MUNDOKIDE – País Basco, com um projeto econômico que custeia as atividades, que exerceram papel decisivo para o desenvolvimento da consciência crítica dessas camponesas em relação a sua realidade cotidiana desigual. Atualmente o Coletivo Regional de mulheres conta com a participação de 20 companheiras oriundas de Acampamentos, Assentamentos, comunidades camponesas.

O coletivo se organiza com reuniões mensais, sendo que parte da reunião é destinada para formação com temas relacionados à realidade das mulheres, abordando questões de gênero, liberdade, autonomia do corpo, violência contra as mulheres, produção agroecológica, participação das mulheres em suas organizações, saúde etc., outra parte para discutir a pauta de ações concretas na região. As reuniões sempre trazem os elementos da mística, partilha de alimentos, troca de experiências, compromisso coletivo e auto organização para o planejamento e formação.

As ações do coletivo se direcionam para o trabalho de base nas comunidades, acampamentos e assentamentos, Escola Regional de Mulheres, que em 2016 formou a 4ª turma, e em 2017 deu início a 5ª turma. Nos encontros do coletivo são realizados também oficinas de Panificados, processamento de frutas, agroecologia, manejo de solos, caldas e biofertilizantes, homeopatia, plantas medicinais, com o objetivo de capacitar e qualificar o trabalho produtivo das mulheres e ampliação da renda familiar. Além de intercâmbios para troca de experiências e conhecimento, dentre os quais citamos: Barra do Turvo, COPAVI, Lapa, Porto Vitória/União da Vitória, Sudoeste – Agricultores vinculados a Assessoar.Outra ação importante realizada pelo coletivo de mulheres foi à implantação de dois quintais agroflorestais, nos acampamentos: Herdeiros da Terra I e II, que possibilitou a consolidação de uma experiência produtiva que poderá ser implantada nos lotes nos assentamentos e nos lotes dos futuros assentados dos acampamentos da região.

O coletivo regional organiza e assessora grupos produtivos de mulheres com diferentes níveis, dos quais alguns se consolidam em agroindústria, grupos, associações e cooperativas. Além da organização das mulheres, o coletivo participa de espaços políticos e em instituições públicas como o CONDETEC, Conselho comunitário da UFFS, Organicidade da Feira Regional de Economia Solidaria e Agroecológica – FESA; Participação no conselho municipal dos direitos das mulheres, Laranjeiras do Sul; Participação no conselho municipal de Assistência social – Laranjeiras do Sul.

Diante deste contexto as mulheres precisam deixar de se limitar ao âmbito doméstico e passar a integrar as lutas sociais, no entanto as dificuldades são muitas que vão desde organizarem-se como coletivo, pela própria limitação nos debates, dificuldade em deixar os afazeres que normalmente são de responsabilidade das mulheres, como cuidar da casa, dos filhos e dos trabalhos realizados nas unidades de produção familiar ou por questões financeiras, que limita a saída das mesmas de seus espaços de vivência.

No coletivo as mulheres se fortalecem para se consolidarem como autoras de suas histórias, ocupando espaços importantes e contribuindo para a construção de novas relações sociais de gênero. A luta dessas mulheres passa a ser em favor da igualdade de gênero nas relações sociais familiares e societárias, do reconhecimento de seu pertencimento a uma classe, a classe trabalhadora e pelo reconhecimento da imprescindível transformação da sociedade como um todo.

“ESTAMOS TODAS DESPERTAS CONTRA O CAPITAL, O AGRONEGÓCIO” Tema do 08 de março – 2017

Referências

DUARTE, K. A; LUSA, M. G; SILVA, M. N. Mulheres nos movimentos sócias: a construção da identidade​.​ In: SEMINÁRIO NACIONAL ESTADO E POLÍTICAS SOCIAIS, 5;. 2011, Cascavel.

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