Há uma sustentabilidade possível?
Por Julian Perez Cassarino – Dr. em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UFPR e Professor da UFFS

A questão ambiental possivelmente seja das questões mais difíceis de se entender e, por conta disso, agir em sua solução. É inevitável hoje falarmos do meio ambiente, os fatos saltam aos nossos olhos: lixo pelas ruas, clima instável, uso indiscriminado de agrotóxicos, tratamento inadequado de resíduos industriais, água escassa e contaminada, etc. Da mesma forma, os apelos em torno dessa questão também são muitos: o carro eco-drive, a sacolinha oxi-biodegradável, o detergente, o tijolo, o ar condicionado, a caneca, a caneta e até o papel higiênico, todos tem uma versão ecológica.

É nesse emaranhado de informações desencontradas que nos vêm a pergunta: o que fazer? Como devo agir para ter uma atitude mais sustentável?

O primeiro passo para nos localizarmos nesta questão é entender as origens do problema. Não há uma origem única para os problemas ambientais, evidentemente, mas há fatores determinantes para seu agravamento, e conhecê-los é fundamental para mudar nossa atitude.

Um dos fatores, senão o principal, está relacionado a um dos pilares que sustentam nossas sociedades:  O CONSUMISMO. Sim, o consumismo leva à produção de mais mercadorias, a produção de mais mercadorias leva à maior degradação dos recursos naturais, maior geração de resíduos e poluição. A relação é tão simples quanto inevitável.

Ocorre que hoje, o consumismo possivelmente seja o dogma mais consolidado em nossa sociedade. Cristãos, ateus, budistas, comunidades de terreiro, espíritas; posturas de direita, de esquerda, de centro, atleticanos, coxas-branca, gremistas, colorados, de uma forma geral, todos querem…. Consumir.

E não que seja culpa nossa ter esse desejo incontrolável por possuir bens materiais, mas é que o consumo se tornou o principal meio de afirmação social em nossa sociedade. Eu avalio o outro pelo que ele possui – portanto o que consome – a roupa que usa, o carro que tem (ou o fato de não ter carro), a marca do sabão em pó, o acabamento da casa, a viagem das férias, enfim, a ideia inerente à sociedade capitalista é de que só nos tornamos sujeitos à medida que ampliamos nossas posses ou demonstramos nossa capacidade de consumir.

Essa ideia é martelada dia após dia, numa roda viva de anúncios e propagandas que dizem que você só será uma pessoa boa e feliz se…Consumir. Essa roda-viva faz questão de nos mostrar que o que temos é insuficiente, ineficaz, atrasado, feio, inútil. E isso é particularmente cruel quando falamos das crianças. Em 2014, nas grandes cidades do Brasil, as crianças passavam em média cerca de 5h30 por dia em frente a TV. Hoje, as crianças são responsáveis por 80% das decisões de consumo nas famílias.

Hoje, 20% dos habitantes deste pequeno planeta, aqueles com maior capacidade de consumo, consomem 80% dos recursos naturais. E os que não estão entre esses 20% estão ansiosos por lá estar. E é essa a conta que não fecha. Se um dia, todos e todas alcançarmos os níveis de consumo que a mídia e o convívio social nos impõe, o planeta Terra implode, não suporta. E não há saídas tecnológicas, por mais sustentáveis que possam ser, que resolvam a equação: consumo crescente de recursos versus limite de recursos do planeta.

Assim, a primeira sustentabilidade possível, é a da redução do consumo, não do necessário, evidentemente, mas devemos repensar o que nos é realmente necessário. Buscar reconstruir a ideia de uma sociedade baseada no convívio em conunidade, na solidariedade, na tolerância, na compreensão do(a) outro(a) e no acesso à cultura e educação de qualidade, aspectos que quanto mais “consumimos”, menos recursos naturais degradamos.

Mudar nossa atitude diária e em comunidade, bem como exigir políticas públicas que favoreçam a redução do consumo e a regulação da propaganda são um primeiro importante passo para reconstruir a harmonia entre a espécie humana e as demais que habitam este planeta.

Quer saber um pouco mais? Assista o vídeo “A história das coisas” no youtube

Quer saber mais ainda? Recomendo a leitura do livro “Meio Ambiente & Consumismo”, de Gino Giacomini Filho (Editora Senac, 2008).

 

1 comentário em “Há uma sustentabilidade possível?

  1. Também acredito que o principio da solução passe pela regulamentação da propaganda, como um dos fatores importantes de conscientização. No entanto, sabemos que isso não vai acontecer, pois, são essas mesmas empresas que financiam a acensão de cargos políticos.

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