João quer, sem saber, mais Estado

Diego Mendonça.Diego Mendonça Domingues é Engenheiro civil, formado pela Universidade Federal do Paraná. Pós-graduado em administração tributária e integrante do levante popular da juventude e publica sua coluna todas terças-feiras, no Portal Comcafé.

Talvez a maior beleza da natureza seja o nascimento de um novo ser. Em relação ao ser humano a nova vida de um bebê que puja dá a sensação de vitória a todos que o cercam. Essa criança, especialmente nos seus primeiros momentos de vida, precisa de cuidados e vai aprendendo no decorrer de sua história com as próprias experiências, tanto nos acertos quanto nos fracassos. O neném, no início, não sabe o que precisa e o que quer, mas quer e sabe que precisa de conforto em vários sentidos. Pode, muitas vezes, pedir comida ao passar frio e pedir um banho ao sentir fome. Isso é normal. Essa é a natureza. Aprende-se com a vivência.

Neste texto, a criança é João.
João nasceu em uma típica cidade interiorana paranaense. Em uma época de incertezas no cenário político nacional ele fazia parte de uma família de classe baixa com renda suficiente para se alimentar. Cresceu envolto à racionalização dos recursos financeiros da casa, com uma educação de qualidade e boa ética. Sempre acreditou nos valores da solidariedade e justiça.
Já na idade escolar João se destacou como um garoto inteligente, não apenas convencionalmente com boas notas, mas muito e principalmente no que tange às boas linhas de raciocínio prático. João era esperto, tímido, e sério.
Passou pela formação nos bancos escolares públicos ou privados, sempre com a intenção de adentrar uma universidade num curso interessante que o retribuísse financeiramente e o fizesse trabalhar de bom grado. Enquanto isso sua família ascendia economicamente conseguindo bens próprios.
João fazia a leitura de sua vida – embasada na sua família (a vida, não a leitura) – de maneira bastante lúcida e sensata. Precisaria de um emprego para dar continuidade à produção e reprodução da vida social, sendo que para isso era necessário boa preparação do ponto de vista tecnológico (científico mais técnico) para poder dirigir os processos produtivos. Dessa maneira, João daria sequencia no ciclo de vida proposto para ele durante a vida toda, desde seu nascimento.
Finalizando o ensino médio João teve possibilidades. Trocar de cidade e buscar um curso superior mais renomado no cenário acadêmico era uma. Continuar em seu município, batalhar e construir a vida mais próximo de sua família era outra. Escolheu a segunda.
Na faculdade, João se deparou com plurais histórias que o fizeram refletir ainda mais sobre a humanidade e um possível modelo de mundo que daria conta de todas as suas contradições. Neste momento João se deparou com uma preocupação que talvez nunca tivesse tido seriamente: a organização política do povo brasileiro.
Era 2016.
E essa organização não significa necessariamente o debate sobre Dilma na presidência, ou o feminismo dito radical.
Era 2016. E essa organização política não significa, tampouco, apenas a maneira que a sua cidade é administrada, o que os vereadores fazem e o porquê. Qual prefeito eleger e quais as diferenças de um para o outro. João percebeu muito mais que isso. João atentou para um fato importante: somos seres políticos e a todo o tempo fazemos política de diferentes maneiras e com diferentes intenções.
A política ultrapassa os gabinetes, ou melhor, a política não pode se expressar exclusivamente nas decisões governamentais. João foi às ruas pedir mais educação. João foi às ruas pedir mais saúde e segurança pública. João, em sua faculdade, exerce a democracia para além do voto. João quer a possibilidade de empreender com clareza e regras. João pode querer ser médico. João pode querer ser biólogo. Arquiteto. Doutor.
Infelizmente João, com predisposição conservadora, foi manipulado por um discurso hegemônico elitizado o qual propõe que o Estado não consegue dar conta de sanar as necessidades básicas da população. Foi cooptado por um projeto que afirma que o caminho da iniciativa privada responde melhor às esperanças do povo. João entende que o Estado, falido e sucateado, precisa ser superado por um mercado mais livre e competitivo.
João estava se tornando partidário de um partido que não tem sigla eleitoral e muito menos registro no Tribunal Superior.
João está prestes a superar, incorporando, uma contradição central para a juventude: como adequar a esperança de sua infância com a realidade da vida adulta. E aí seguirá para uma ainda maior, pois a vida é movida por elas, as contradições.
Uma boa semana a todos!

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