Juri que condenou Claudinei Praxedes em 16 anos por tentativa de feminicídio contra Roseli Cecatto é marcado pela presença de estudantes

O caso de tentativa de feminicídio, de Claudinei Praxedes de Souza, contra a ex-companheira Roseli Cecatto, chocou a sociedade pela crueldade que a vítima foi submetida, tendo um lado do rosto rasgado pelas mãos do agressor.

O Julgamento que durou 12h, realizado em Laranjeiras do Sul, nesta sexta-feira (22) – terminando com a condenação por 16 anos e quatro meses em regime fechado, de Claudinei Praxedes de Souza, por tentativa de feminicídio com requinte de crueldade, no dia 10 de abril de 2018, contra sua ex-companheira, Roseli Cecatto – foi marcado pela presença de 100 alunos dos terceiro e segundo anos do ensino médio do Colégio Estadual Laranjeiras do Sul, na parte da manhã. A sentença ainda aplica uma multa no valor de 20 mil reais a ser pago a vítima.

Naturais de Laranjeiras do Sul, Claudinei e Roseli tiveram um relacionamento de  três anos, quando por não aceitar o término, ele arrombou a casa da ex-companheira, esperando-a com faca em punho, desferindo-lhe diversos golpes e após quebrar a ponta da arma, rasgou o rosto dela com as mãos. O caso pode ser relembrado através de reportagem de Comcafé, da época: https://www.comcafe.net.br/violencia-contra-a-mulher-e-feio-para-quem-pratica-roseli-cecatto-fala-sobre-a-tentativa-de-feminicidio-que-sofreu/.

Durante o julgamento, foram ouvidas testemunhas de ambos os lados. Do lado da vítima, uma amiga que esteve com ela, momentos antes da agressão, pessoas  que a socorreram e profissionais da segurança. Todos ainda chocados com o estado em que a encontraram. Do lado de Claudinei, a ex-esposa (com quem teve uma filha e com que viveu por 12 anos, antes de Roseli), e dois amigos que falaram sobre os momentos que conviviam com ele, mas que desconheciam o dia a dia da relação do casal em conflito.

O advogado de defesa de Claudinei conduziu a versão dos fatos tentando convencer os jurados a favor de seu cliente, de forma a configurar que a vítima era culpada, agarrando-se, principalmente, no depoimento da ex-esposa, que descreveu Claudinei como um bom marido e pai.

Ao anunciar a sentença, O juiz Alberto Moreira Cortes Neto, disse que nos dois anos que atua na comarca de Laranjeiras do Sul, já são mais de 500 casos de violência doméstica. Ele enfatizou  ainda, a atuação dos órgãos parceiros do judiciário, no esclarecimento das leis e trabalhos com vitimas e agressores, e que tratará na forma mais dura da lei, os casos que envolvem violência contra a mulher.

Após ser ouvida, Roseli Cecatto deixou o Tribunal do Juri, e ao receber o abraço do filho Eduardo, diz não se conformar que apesar do seu caso ter gerado uma campanha reflexiva intensa, muitas mulheres foram mortas de lá para cá, na região. “Não só no meu caso, mas o que esperamos é que a justiça seja rigorosa, porque o entendimento ainda é de impunidade. É preciso que se saiba ao menos, que vai responder pra justiça”, disse Roseli, que lembrou durante o seu depoimento, não ter sido acolhida na delegacia, quando levou a situação de ameaça, antes da agressão. “Eu tentei fazer um boletim. Mas fui tratada de uma forma que meu sentimento foi o de nunca mais voltar a uma delegacia”, afirmou.

Objetivo e importância da participação de estudantes

De acordo com o professor Cléverson Lucas dos Santos, que acompanhou as turmas, durante a sessão do juri e que é professor de Português no Colégio Estadual Laranjeiras do Sul, o objetivo foi proporcionar que aos alunos visualizar a estrutura do tribunal do Juri para trabalhar com a linguagem jurídica. “Por acaso, coincidiu desse caso ser julgado no mês da mulher, o que além de servir como conscientização, também dialoga com uma proposta do colégio de os alunos produzirem um livro coletivo sobre esse tema”, ressaltou o professor, acrescentando que para os alunos, a experiência foi de grande relevância.

Para os colegas João Pedro Bonini e Aline Pechinski Ominiuk, ver de perto a realidade, possibilita abrir os olhos para a gravidade do problema social que é a violência contra a mulher. “É uma sociedade muito complicada. A gente cresce aprendendo a ter que se cuidar e se sente sempre muito oprimida, principalmente em ver que a mulher é colocada na sociedade abaixo do homem, fazendo com que se sinta inferior e não reaja”, disse Aline.

João Pedro disse que pretende cursar Direito e se sentiu despertado para sua futura profissão, além de bastante interessado em participar da produção coletiva do livro. “Para mim que quero cursar Direito, é uma experiência muito importante. Sobre o livro, vamos juntar dados deste município e do Paraná, sobre a violência que acontece pelo fato de ser mulher e levar a mensagem de que esse é um tema que diz respeito a todos nós”, completa o estudante.

 

 

 

 

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