O deserto verde será substituído pelo movimento vermelho, garantem dirigentes do MST

“Os assassinatos que ocorreram aqui, motivam o Incra a acelerar o processo e transformar o Paraná no Estado com o maior número de assentado desse país, e com urgência nas áreas ainda ocupadas pela Araupel”, disse o superintendente do Incra Regional, Nilton Bezerra Guedes.

Mistica de senário em que o MST fez homenagem aos 23, já mortos nos conflitos pela Terra.
Mistica de senário em que o MST fez homenagem aos 23, já mortos nos conflitos pela Terra.

A manifestação do MST e forças políticas do movimento, vindas de todo o Brasil, realizada neste sábado (09), na Praça Pedro Alzides Giraldi em Quedas do Iguaçu, começou com uma encenação teatral e mística, em homenagem aos trabalhadores Vilmar Bordim e Leonir Horback , mortos pela Polícia Militar do Paraná, na última quinta-feira (07), e os 21 mortos na chacina de Eldorado dos Carajás, que completa 20 anos, no dia 16 de abril.

O manifesto acontecia enquanto as famílias dos dois mortos pela PM, os enterravam em suas cidades de origem, nas redondezas de Quedas do Iguaçu. Segundo depoimento de conhecidos da família, Anita Valentina, ainda no ventre da mãe, é o nome da filha de Leonir Orback, de 25 anos, que vai nascer sem conhecer o pai. Já, os

Velório de Leonir Horback, na sexta-feira (08). (foto: Brasil de Fato)
Velório de Leonir Horback, na sexta-feira (08). (foto: Brasil de Fato)

três filhos de Vilmar Bordim, sentirão a falta real do pai, com quem não mais poderão contar, numa vida que já é marcada por tantos sacrifícios.

Uma a um, os discursos foram emocionados e com o tom de revolta e firmeza dos manifestantes na luta pela terra, como seria esperado, considerando o perfil da militância petista, e principalmente, das autoridades representantes do MST, presentes no ato. “Após uma tragédia séria como a que aconteceu aqui, ao vir para cá, lia um jornal que dizia que a população dessa cidade estava temerosa com este manifesto, no sentido de criar pânico de criminalizar ainda mais o MST. É lamentável como se posicionam aqueles que não se

Senadora Gleisi Hoffemann.
Senadora Gleisi Hoffemann.

sensibilizam com a dor que sentem essas famílias, neste momento em que as dificuldades se intensificam. Pois só chama os Sem Terra de vagabundos e os criminaliza o povo camponês, quem nunca pisou num acampamento. Quem nunca viu a dureza que é ficar por tempo indeterminado debaixo de uma lona, enquanto espera pelo sonho de ter um trabalho. Os responsáveis pelos assassinatos que aconteceram aqui têm nomes. Chamam-se Valdir Rossoni e Beto Richa”, disse a senadora Gleisi Hoffemann.

O deputado Caetano do PT baiano, disse que há uma coincidência que não pode deixar de ser observada, em todos os episódios criminosos que já vitimaram camponeses do MST, no Brasil, desde o Eldorado dos Carajás. “Em todas as emboscadas, massacres e chacinas, os governadores mandantes das polícias executoras, eram e são do PSDB”, frisou Caetano.

Reverendo Luiz e Irmã Lia.
Reverendo Luiz e Irmã Lia.

Carregando a bandeira do MST, o Reverendo Luiz e a Irmã Lia, conhecidos agentes cristãos (católicos) com atuação dentro de assentamentos de todo o Brasil, disseram que faziam da bandeira do movimento, a estola do sacerdócio. “Em especial neste dia, ficamos com a bandeira vermelha da cor do sangue dos nossos irmãos, derramado nessa cruel atuação dos policiais”, disse o reverendo.

“Ganham para ser os defensores da sociedade e agem sendo os matadores. Nos resta estar aqui ao lado deste tão organizado movimento, que consegue de um dia para outro trazer toda essa multidão aqui, em torno deste sonho coletivizado”, disse a Irmã Lia que pediu para todos se darem as mãos e dizerem-se uma palavra construtiva “coragem”.

 Gilmar Mauro - dirigente nacional do MST.
Gilmar Mauro – dirigente nacional do MST.

Enfática ainda foi a fala do dirigente nacional do MST Gilmar Mauro. Ele disse que: “o sangue dos companheiros mortos será usado para regar as mentes de cada trabalhador, para que tenham ainda mais força para ocupar todos os latifúndios desse país”, afirmou. “Enquanto houver gente sem terra e terra sem gente nesse país, nossa missão não acaba”, concluiu.

Foram mais de três horas de discursos e considerações de muitos representantes políticos, de entidades e instituições, que vieram trazer solidariedade e apoio ao MST. Não houve presença de policiais no evento, exceto nos arredores, mas sem que tivessem se aproximado dos manifestantes.

Família do MST - organizados para ficar o tempo necessário, no dia de manifestação.
Famílias do MST – organizados para ficar o tempo necessário, no dia de manifestação.

As famílias vieram organizadas para passar o dia no manifesto. Uma delas, de São Jorge, Trouxe equipamento (fogareiro adaptado com panela e bujão de gás), onde providenciava o almoço para outras seis famílias que se revezavam para se alimentar com risoto e salada, enquanto participavam do ato.

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